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10 dezembro 2015

Futuro do Bioma Pampa é tema de debate

Para comemorar o Dia do Bioma Pampa (17/12), entidades ambientalistas promovem evento na Ufrgs. 
Os debates serão realizados no dia 17 de dezembro, a partir das 19h, no auditório da Faculdade de Economia da Universidade. (Av. João Pessoa, nº 52, Centro de Porto Alegre - RS).

Clique para ampliar a imagem.
O Dia do Bioma Pampa homenageia o nascimento do ambientalista José Antônio Lutzenberger, fundador da Agapan. O Bioma Pampa somente foi reconhecido oficialmente a partir de 2004 e teve seu dia criado em 2007.

Além de ser um patrimônio natural, o Pampa é um legado cultural do povo gaúcho e latino-americano que está ameaçado pelas monoculturas e pela destruição de seu habitat natural.

13 novembro 2013

Lançamento da biografia "Depois de Tudo um ecologista" de Augusto Carneiro dia 13 de novembro na feira do Livro

Augusto Carneiro - DEPOIS DE TUDO – Um Ecologista.

Sessão de autógrafos de Augusto Carneiro e a escritora Lilian Dreyer será hoje 13 de novembro, as 18 horas,  na Praça de Autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre.

                                                         



Sinopse:


Quando Augusto Carneiro nasceu, em 1922, a área onde depois seria erguido o Estádio Olímpico, do Grêmio, ainda era zona de trânsito de animais silvestres. Ele amava animais, mas a infância em meio à natureza exuberante, no então bucólico bairro da Glória, em Porto Alegre, não foi propriamente uma bênção. Ele foi testemunha involuntária de inúmeras agressões a bichos, e o matraquear de espingardas de caça frequentemente o impedia de brincar na rua. Ele cresceu assustado com seu meio cultural, que em seu modo de ver aceitava também violências contra crianças, jovens, mulheres e negros. O desejo de opor-se a isso o constituiu.
Ainda adolescente, tornou-se um militante antirracista e antifascista, o que o levou à adesão ao Partido Comunista Brasileiro. Militante ativo durante anos, afastou-se do partido por desencanto com o que entendeu como “desvirtuamento do regime comunista”, especialmente o soviético, de que chegou a ser colaborador direto. Mas esta proximidade fez com que descobrisse a profissão de livreiro. Como administrador da Livraria Farroupilha, ligada ao PCB, Carneiro viria a integrar o time de 14 pioneiros que, em 1953, promoveram a primeira Feira do Livro de Porto Alegre. O trabalho com livros nunca mais cessou e acabou por estabelecer uma ponte para outras formas de pensar o mundo, tornando-o receptivo ao ideário e ao ativismo ecológico de Henrique Luís Roessler e, mais tarde, José Lutzenberger. 
Augusto Carneiro foi co-fundador da nacionalmente pioneira Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, cuja ação viria a marcar a cultura de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Em 1981, depois de aposentar-se do Tribunal Regional do Trabalho, de que foi funcionário concursado, engajou-se em tempo integral no ativismo ecologista. 
No ano em que se comemoram seus 90 anos de vida, completados em 31 de dezembro de 2012, ele volta à Feira e à Praça da Alfândega, desta vez como personagem de livro. É protagonista de Augusto Carneiro – depois de tudo – um ecologista, obra que resultou de um trabalho de dois anos da jornalista e escritora Lilian Dreyer, autora também do já consagrado Sinfonia Inacabada – a Vida de José Lutzenberger. Motivada pelo peso e pela proximidade da ação dos dois ambientalistas, Lilian debruçou-se sobre as memórias e os arquivos de Carneiro, captando daí os elementos para compor o que ela classifica como um “retrato biográfico”. (Por Christian Goldschmidt) 

164 páginas, R$ 35,00
Editora Pelo Planeta/Scortecci

Convite no Facebook:
https://www.facebook.com/events/541884635882204/545971278806873/?notif_t=plan_mall_activity

09 agosto 2012

Casa Lutzenberger é tombada como Patrimônio de Porto Alegre



A casa onde nasceu José Lutzenberger, pai da ecologia, foi tombada pelo patrimônio público nesta quarta-feira (8/8), em Porto Alegre, sem a presença de ambientalistas da Agapan, Amigos da Terra, Ingá ou outros movimentos defensores da natureza. Localizada na rua Jacinto Gomes, o Casarão é agora Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre. Construído há 80 anos pelo arquiteto e artista plástico alemão, Joseph, pai de Lutzenberger, projetista do Palácio do Comércio, da Igreja São José e o prédio do Pão dos Pobres.

Após dez anos em restauração, o Casarão passa a sediar o escritório da empresa Vida Produtos e Serviços em Desenvolvimento Ecológico, das filhas Lilly e Lara.  O prédio esteve aberto para visitação somente à tarde desta quarta-feira. Outras visitações poderão ser agendadas. Além da Vida, Lutz deixa, como legado, a Fundação Gaia, sediada no Rincão Gaia, próximo a Pantano Grande. Ao lado da construção do Casarão destaca-se a canafístula que recobre todo o jardim preservado.

Assessoria de Imprensa da Agapan
Adriane Bertoglio Rodrigues

Imagens: 
Site Prefeitura Municipal de Porto Alegre/ Video Lutz

05 junho 2012

AGAPAN E A PEGADA ECOLÓGICA DE LUTZENBERGER

Para a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural - AGAPAN-, entidade fundada por José Lutzenberger, dia 27 de abril de 1971, o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE de 2012, dez anos após a sua morte, acontece em meio a uma conjuntura planetária. “LUTZ” deixou a sua  pegada ecológica nos seus escritos e, em termos locais, na influência carismática da sua personalidade na AGAPAN, na Fundação Gaia e nos contextos em que atuou.



Ele foi um dos pioneiros mundiais do movimento ecológico e um criador de uma nova concepção de ativismo político. No momento atual estamos a duas semanas da realização da RIO + 20 e da CÚPULA DOS POVOS, 40 anos depois da Conferência de Estocolmo, 20 anos depois da ECO-92, dois anos e meio depois do fracasso de Copenhagem, e traumatizados pelo retrocesso legal, institucional e político do CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO, sancionado e vetado parcialmente pela presidente Dilma Rousseff.



Estamos presenciando um contexto de perda das conquistas ecopolíticas mais significativas das quatro décadas de existência do movimento ecológico mundial nos seus níveis local, nacional e global. Vivemos atualmente o impasse civilizatório que se configura na participação dos governos do mundo na RIO+20, tendo o conclave oficial organizado pela ONU tirado da pauta a problemática do aquecimento global, universalização do acesso à água, segurança alimentar e biodiversidade e outros temas de fundamentais para a sobrevivência da civilização.



Vivemos no Brasil um contexto de retrocesso político, legal e jurídico de direitos ambientais e sociais, duramente conquistados pela sociedade brasileira, obtidas após o término da ditadura militar e da redemocratização do Brasil. Toda esta conjuntura impõe o imperativo de repensarmos a nossa trajetória histórica e nos resituarmos no atual contexto  de aprofundamento da crise ecológica e de impasse civilizatório planetário. Portanto estamos no momento histórico de olharmos a pegada ecológica deixada por “LUTZ”.

A  vinda a Porto Alegre de uma liderança mundial do porte da ecofeminista indiana VANDANA SHIVA, na celebração dos dez anos da morte de José Lutzenberger foi uma iniciativa maravilhosa, feliz e absolutamente oportuna da Fundação Gaia- o Legado de José Lutzenberger.

Foi mais uma oportunidade que tivemos para ver e compreender a pegada ecológica que o ecologista gaúcho nos legou. O fato é que a pegada ecológica do “LUTZ”, é muito grande, é IMENSA. Em diversas oportunidades a ecofeminista indiana referiu-se à intensa participação do fundador da AGAPAN na articulação política do movimento ecológico mundial, contra as grandes corporações transnacionais no seu processo de apropriação e de privatização da vida que culmina no patenteamento dos seres vivos. O legado deixado por Lutzenberger  na AGAPAN e no movimento ecológico é o desafio de um novo projeto de civilização, colocado ao pensamento político e jurídico constitutivo das diferentes ordens sociais existentes no mundo. Trata-se de dar início a uma tomada de posição no âmbito do Direito constituído em relação à atual ausência de limites ao direito de propriedade. A ausência destes limites hoje ameaça a racionalidade das nossas instituições, a continuidade da civilização e a sobrevivência e longevidade da nossa espécie no seio da VIDA, colocando a humanidade na sua atual condição de suprema indigência política.

O alerta deixado por Vandana Shiva sobre a inviabilidade econômica e ecológico de um modelo agrícola que destrói a capacidade reprodutiva das lavouras como maneira de inviabilizar o armazenamento de sementes para o replantio por parte do agricultor, torna-o deste modo refém de transnacionais  proprietárias das patentes. Está situação de dependência já provocou na Índia “o suicídio de cerca de 250 mil agricultores nos últimos dez anos”.

A  Cúpula dos Povos é um encontro único de proporções planetárias que vai reunir as grandes lideranças da sociedade civil da atualidade.

Este fórum é a instância mais democrática para a discussão dos temas prioritários envolvendo os supremos interesses da humanidade no sentido reduzir a pegada ecológica predatória do atual modelo civilizatório.

Vamos acompanhar de perto interagindo em tempo real com aqueles que lá estarão participando!

19 janeiro 2012

Pioneirismo gaúcho marca movimento ambientalista brasileiro










Ainda na primeira metade do século XX, com Henrique Luis Roessler, e mais recentemente com José Lutzenberger e a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), criada em abril de 1971, os ecologistas do Rio Grande do Sul deram grande contribuição à ciência que será um dos temas centrais do Fórum Social Temático de 2012, que será realizado em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo, de 24 a 29 de janeiro. Esses pioneiros lançaram as bases do ativismo ambiental no país.

Naira Hofmeister - Especial para Carta Maior

Porto Alegre - Quando os participantes do Fórum Social Temático – uma das edições descentralizadas do Fórum Social Mundial, que ocorre desta forma nos anos pares – iniciarem a tradicional marcha de abertura do evento, dia 24 de janeiro, vão testemunhar um pouco do legado que o movimento ambientalista gaúcho deixou para Porto Alegre.

É que a preservação das copas das árvores que tornarão o trajeto de quatro quilômetros entre o Largo Glênio Peres e o Anfiteatro Pôr-do-sol mais ameno é fruto da luta de um grupo de pessoas engajadas na preservação da natureza, cuja atuação convicta iniciou em abril de 1971 com a criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), capitaneada pelo engenheiro agrônomo José Lutzenberger e pelo ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Augusto Carneiro.

“Há várias menções sobre qual foi a primeira entidade do País (…). A fundação da Agapan inaugurou a corrente ativista no Brasil”, reivindica Carneiro em seu livro A História do Ambientalismo (Editora Sagra Luzzatto).

Logo que foi criada, uma das principais bandeiras da Agapan era combater a poda anual das árvores de Porto Alegre operada pelo executivo municipal. “A prefeitura mandava os operários saírem com uma taquara, para medir a altura. Eles podavam na altura da taquara, sem se importar com a grossura do tronco. Pensamento reducionista, né?!”, expôs outro fundador da Agapan, José Lutzenberger (falecido em 2002) em um depoimento publicado na obra Pioneiros da Ecologia (JÁ Editores).

Um dos episódios mais folclóricos que envolvem a entidade, aliás, está relacionado ao ímpeto de proteção dos vegetais urbanos. Ocorreu também em um dia de janeiro, só que no ano de 1975. Ouvindo os conselhos do 'mestre' Lutz, de que só havia um jeito de fazer a prefeitura desistir do corte de árvores na cidade, o estudante de engenharia Carlos Dayrell subiu em uma tipuana da avenida João Pessoa para impedir que fosse derrubada para a construção de um viaduto.

A foto que imortalizou o momento mostra dois rapazes se segurando em galhos na copa do exemplar que fica na calçada do núcleo de prédios históricos da UFRGS. “Deu uma baita repercussão para nós. Saiu matéria no Estado de S.Paulo e nos maiores jornais de Buenos Aires. Até nosso manifesto foi publicado”, lembra Carneiro em seu depoimento no livro Pioneiros da Ecologia.

A tipuana segue no mesmo lugar, 37 anos depois, e o traçado do viaduto teve que ser alterado depois da atitude de Dayrell.

A pressão dos ecologistas fez com que, em 1976, Porto Alegre se tornasse a primeira cidade brasileira a ter uma secretaria municipal do meio ambiente. Herança dos ambientalistas também é o Código Estadual de Meio Ambiente, aprovado no ano 2000 igualmente de forma pioneira.

Em Porto Alegre 771 árvores estão declaradas imunes ao corte por decretos do executivo, sendo que a capital gaúcha possui uma média de uma árvore por habitante em vias públicas, excluindo as que estão nos parques.

Outra conquista contemporânea do movimento ambientalista gaúcho é a existência de cinco túneis verdes declarados patrimônio ecológico da cidade. São trechos de 14 ruas nas quais as copas das árvores plantadas de ambos lados da calçada de fecham formando uma cobertura natural. E desde 2006 a cidade possui um Plano Diretor de Arborização Urbana, que determina que os passeios públicos devem manter, no mínimo, 40% de área vegetada.

Agrotóxicos e Borregaard, vitórias dos ecologistas
Foi através dos discursos de José Lutzenberger no início dos anos 70 que o Brasil ficou sabendo da batalha capitaneada pela Agapan para que o país adotasse o termo agrotóxicos no lugar de defensivos agrícolas para se referir aos pesticidas colocado nas plantações para combater pragas.

“Vejam o absurdo: se eu quisesse comprar 50 gramas de material para fabricar pólvora, precisaria de uma licença do Exército. No entanto, qualquer guri podia comprar 200 litros de veneno, que se cair uma gota na perna, o sujeito está morto uma hora depois”, comparava o engenheiro agrônomo e ambientalista em suas reflexões que integram a obra Pioneiros da Ecologia.

Anos depois, o Rio Grande do Sul seria o primeiro estado da nação a criar leis que regulamentassem o uso de tais substâncias e em 1988, o tema acabaria incluído na Constituição Federal sob o artigo que comenta a proibição de envenenar rios.

Foi também a preocupação com a qualidade da água que levou a Agapan a investir contra a Borregaard – fábrica de celulose norueguesa que se instalou em Guaíba, às margens do lago que banha a cidade e a Capital do Rio Grande. Corria o ano de 1972 e a indústria, aprovada pelo governo militar recebeu incentivos fiscais e financiamento de bancos públicos, mas não incluía em seu projeto cuidados com o meio ambiente.

“O discurso desenvolvimentista da época chegava ao ponto de fazer com que ministros de Estado brasileiros, ao convidar investidores, proclamassem: “venham poluir aqui”. Os noruegueses da Borregaard levaram o convite tão ao pé da letra que não destinaram um único centavo a equipamentos antipoluição”, revela a jornalista Lilian Dreyer, biógrafa de José Lutzenberger, no artigo Borregaard: um marco na luta ambiental, publicado no site Agenda 21.

Apesar do risco que a deposição de resíduos químicos no Guaíba representava para a saúde nas cidades que abastecidas por suas águas, foi mesmo o mau cheiro que exalava da chaminé da Borregaard que causou uma mobilização sem precedentes contra a fábrica.

O assunto, levado aos jornais pelos ambientalistas da Agapan, mereceu inclusive uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa, onde médicos apresentaram estudos sobre casos de dores de cabeça, irritação nos olhos, náuseas e vômitos relacionados à poluição provocada pela Borregaard.

Três anos depois os noruegueses desistiram do negócio cansados das exigências que teriam que cumprir para manter a atividade. O empreendimento foi nacionalizado e passou a chamar-se Riocell. Investiu no controle ambiental e contratou José Lutzenberger para ser consultor.

Depois a fábrica passou para as mãos da Klabin, Aracruz e, desde 2009, é tocada por chilenos do grupo CMPC. Mesmo depois de todas essas trocas de comando foram mantidos os programas de conservação de fauna e flora autóctones implementados por Lutz.

Lutz desafia Collor
A trajetória de José Lutzenberger à frente do movimento ambientalista tem muitas anedotas. “O ex-vendedor de produtos químicos (funcionário da Basf), que consumiu 30 anos de sua vida brigando, xingando e fazendo adeptos, se manteve irredutível até o fim. Foi rotulado de louco, retrógrado, irresponsável, visionário e gênio.” Essa é a descrição que os jornalistas Elmar Bones e Geraldo Hasse fazem de Lutz no livro Pioneiros da Ecologia – que contém uma das últimas entrevistas do militante, concedida em agosto de 2001, poucos meses antes de morrer, no ano seguinte.

Uma das mais curiosas facetas da personalidade do ambientalista se mostrou durante o período em que foi ministro do Meio Ambiente do governo Fernando Collor de Melo, entre 1990 e 1991. Lutz ficou um ano e três meses no cargo e sua demissão nunca foi esclarecida. Ele, entretanto, tem uma hipótese para justificar o rompimento do então presidente com seu assessor.

Em uma viagem à Áustria acompanhando o chefe do Executivo federal, Lutz irritou-se com um pedido de Collor ao primeiro-ministro austríaco – na época Branitski – feito “naquele inglês todo enrolado dele”. Collor dizia que o Brasil era um país pobre e que precisava da ajuda dos ricos. Em seguida passou a palavra a Lutzenberger, que narrou assim, em Pioneiros da Ecologia, o momento.

“Eu falei alemão e disse para o primeiro-ministro: 'Olha, nós brasileiros temos um país incrivelmente rico. Vocês austríacos não podem nem imaginar como somos ricos! Vocês tem um território de 83 mil km², o nosso é de 8,5 milhões de km², isto é, mais de 100 vezes maior que o de vocês. Metade do território de vocês é de montanha gelada, dá para fazer esqui e ganhar um pouco com o turismo. Aqueles vales verdes de vocês são lindos, frutíferos, mas tem oito meses de vegetação por ano. A maior parte do Brasil, com exceção daqueles desertozinhos lá do nordeste, tem doze meses de vegetação por ano. Nós temos um clima maravilhoso. Temos tudo quanto é recurso. Mas nós somos um país muito pobre. Incrivelmente pobre. Não se imagina como nós somos pobres em político decente”. Na saída, Collor me perguntou porque o homem riu tanto. Eu expliquei o que tinha dito, ele deu uma risadinha amarela. Três semanas depois me mandou embora”.

Roessler, ecologista antes da ecologia
Antes de José Lutzenberger, Augusto Carneiro e da Agapan, o Rio Grande do Sul despontou para o ainda incipiente cenário de defensores do meio ambiente com um homem natural de porto-alegrense e capilé de coração.

Henrique Luis Roessler nasceu em Porto Alegre em 16 de novembro de 1896, mas sua batalha ambiental teve como palco as margens do Rio dos Sinos, onde atuava como funcionário da Delegacia Estadual dos Portos e foi delegado florestal voluntário do Ministério da Agricultura.

“O cara que começou tudo isso não veio apenas antes de José Lutzenberger. Sua União Protetora da Natureza (UPN) precedeu em 16 anos a Agapan. Roessler e a UPN vieram antes de Chico Mendes e do Greenpeace. Roessler, na verdade, veio antes do ambientalismo”, define o biógrafo do homem que hoje dá nome à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Ayrton Centeno nas páginas de Roessler – O primeiro ecopolítico (JÁ Editores).

A conscientização pública dos cuidados que o meio ambiente requer foi empreendida por Roessler e incluía a distribuição de cartazes e panfletos ilustrados por ele nos quais alertava para os “tarados” passarinheiros, que caçavam os bichinhos e colecionavam suas cabeças em colares, por exemplo. Mas Roessler também tinha métodos menos ortodoxos para “convencer” proprietários de animais a tratarem bem seus companheiros de jornada. Como o caso relatado por Centeno na biografia do militante, em que, em plena década de 50, Roessler surpreende um homem dando relhaços em seu cavalo. Revoltado, arranca o instrumento de maltrato das mãos do dono e lhe aplica uma surra igual a que o homem dava no cavalo.

Além da ação direta na região do Vale do Sinos, foi através de crônicas publicadas semanalmente no jornal Correio do Povo – na época o principal diário em circulação no Rio Grande do Sul – que ele tornou-se o patrono da ecologia no Rio Grande do Sul. “Ele é o fundador da ecologia política no Brasil”, atesta em depoimento a Ayrton Centeno outro pioneiro, Augusto Carneiro, sobre Roessler.

Carta Maior


04 janeiro 2012

Movimento ecológico deve ser visionário, entende Milanez

Militante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) há 40 anos, o biólogo e arquiteto Francisco Milanez reassumiu o comando da ONG no final de 2011 - ele já havia sido presidente da Agapan nos anos 1990. O ativista reconhece que a causa ambiental e o termo ecologia estão mais incorporados à sociedade e aos governos após 40 anos, o que altera o papel do movimento ecológico. Entretanto, Milanez sustenta que o ambientalismo deve permanecer com um pensamento de vanguarda, à frente do seu tempo, para levantar problemas ou soluções que não são vistos. “Éramos chamados de ‘folclóricos’, mas nossas afirmações foram confirmadas 20 ou 30 anos depois”, lembra, ao citar campanhas da Agapan. Ele defende que, agora, o foco deve ser educação ambiental. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Milanez ainda fala da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20 - que ocorre em junho, no Rio de Janeiro, duas décadas depois da ECO-92 -, e do Fórum Social Temático, que acontece em janeiro em Porto Alegre e que é preparatório a Rio+20.

Jornal do Comércio - Se está há 40 anos na Agapan, o senhor começou jovem, não?

Francisco Milanez - Estava no 1º grau no Colégio Anchieta e um colega mais velho das minhas irmãs havia participado da criação da Agapan. E ele - se chama Fernando Celso - veio me procurar porque eu já falava de ecologia. “Olha, tem um negócio para ti.” E me levou numa reunião da Agapan no fim do ano (1971). A entidade havia sido fundada em abril.

JC - E já conhecia José Lutzenberger na época?

Milanez - Conheci lá. Depois das reuniões, havia o tradicional chopinho e Lutz me “entrevistou”: “O que achou? Vai ficar?” E eu disse: “Ah, não sei, estou achando uma coisa muito tapa-buraco”, porque na época havia muitas lutas. Argumentei que com a ecologia a gente precisava fazer uma profunda reforma na sociedade. E ele: “Olha, eu até concordo. Mas até a gente fazer essa mudança, não vai ter mais o que proteger.” As primeiras lutas eram contra a poda das árvores, contra a retirada de pedras de morros, que resultou, por exemplo, na criação do Parque de Itapuã. Poucos anos depois a gente prosseguiu contra a fábrica da Borregaard. E deu certo: em 1974 (a prefeitura) parou de fazer a poda das árvores; a Borregaard foi fechada para fazer o tratamento dos seus resíduos; o Parque de Itapuã está aí até hoje...

JC - Teve o estudante que subiu na árvore...

Milanez – Eu inclusive fazia Engenharia e o Carlos Dayrell, que subiu na árvore da avenida João Pessoa, era meu colega. Queriam aproveitar as férias para cortar todas as árvores, mas se deram mal porque era dia de matrícula na Ufrgs. Foi uma loucura. A mídia nos procurava muito porque tudo era proibido noticiar, mas não havia restrições a publicar nossas ações... Mas naquela vez veio o Dops, inclusive passaram a ir nas reuniões da Agapan. A ecologia passou a ser um tema subversivo. Era um tema novo, a Agapan era a primeira entidade do Brasil. Na época, éramos chamados de “folclóricos”, tinha muita gozação, muita desconsideração, nos chamavam de “lunáticos”, sem base científica... E nossas afirmações, 20 ou 30 anos depois, foram confirmadas pela ciência.

JC - Hoje existem questionamentos ao aquecimento global...

Milanez - Estamos numa situação crítica. Saiu agora um estudo de cientistas russos, apoiado por cientistas do mundo inteiro, mostrando que se está liberando uma quantidade tão grande de metano que se calcula que é uma soma cinco vezes maior do que tudo que se liberou até hoje. Não tenho nenhum interesse em ser alarmista, mas pode ser o início de um colapso. O aquecimento global não precisa ser contestado, porque todos os anos está subindo a média da temperatura da Terra. E o maior problema imediato é o desregulamento climático, por exemplo, fazer calor no inverno - aí brotam todas as frutíferas, vem uma geada depois, mata as plantas, que na verdade estavam estocando energia para a primavera.

JC - A questão ambiental foi institucionalizada em órgãos governamentais e pela própria sociedade nesses 40 anos. Qual é o papel do movimento ecológico no cenário atual?

Milanez - Vai mudando conforme a época. A grande função do ambientalista é ser visionário, é enxergar possibilidades - tanto para o mal quando para o bem - antes da ciência. A ciência ainda é muito lenta, está 30 anos atrás na sociedade. Então, a função é levantar as dúvidas, propor soluções, mostrar possibilidades que não estão sendo vistas. Por exemplo, a Organização Mundial da Saúde, inexplicavelmente, aumentou de 10 a 100 vezes a nossa tolerância para agrotóxicos. É meio estranho... Em 1997, a gente trouxe um documentário da BBC de Londres - Agressão ao Macho - que mostrava os danos dos plásticos e dos agrotóxicos na fertilidade masculina. Era a descoberta de um cientista dinamarquês, que foi se articulando com norte-americanos e europeus e mostrava a perda de fertilidade dos homens em função do estrogênio. Viram que muitos agrotóxicos tinham (estrogênio), e algumas substâncias formadoras no plástico - o ftalato, por exemplo, substância base que dá flexibilidade à garrafa PET - e liberavam, causando um efeito estrogênico. Então, o ambientalista tem que dizer coisas que não são ditas na nossa sociedade.

JC - Quais são as principais lutas da Agapan hoje?

Milanez - Nossa ideia é reavivarmos a grande bandeira educativa da Agapan. Ao longo dos anos 1970 e 1980, fizemos cursos pelo Interior do Estado e muitos líderes se formaram, gente de outras áreas, a gente precisa dialogar com a sociedade. A luta mudou. Era de rua no início, protestos, passeatas. Depois, com a Constituição de 1988, criaram-se conselhos; a Agapan, nos anos 1990, participava de 56 conselhos – estadual do Meio Ambiente (Consema), municipal de Porto Alegre (Comam), nacional do Meio Ambiente (Conama), Conselho do Lago Guaíba, Conselho do Plano Diretor.... E a Agapan ainda faz o milagre de ser voluntária. Hoje, nossa principal função é educar, descobrir novas formas de atuar. Por exemplo, o Ministério Público passou a ter promotorias especializadas em meio ambiente, o Judiciário está começando a crescer nessa jornada, tem o Batalhão Ambiental da Brigada Militar...

JC - Qual é a sua expectativa para a Rio+20?

Milanez - As pessoas têm expectativas de acontecimentos na Rio 92 ou na Rio+20, mas não acontecem coisas importantes nessas reuniões, porque elas já estão prontas, é só uma formalização. Mas acontecem coisas maravilhosas como o Fórum Global (evento da sociedade civil paralelo à conferência da ONU). É infinitamente mais produtivo, o outro é bem burocrático. Na Rio 92, o Fórum Global foi uma grande chance para a gente (movimento ecológico) se articular e conhecer pessoas do mundo inteiro. Hoje já será para outra coisa, de certa maneira, para conhecer pessoalmente quem a gente já conhece pela internet...

JC - O Fórum Social Mundial teve um papel nessa formação de redes globais de ONGs?

Milanez - Sim, muito grande. A Rio 92 reuniu um monte de gente, mas era temática. E o Fórum Social Mundial começou um trabalho de diálogo com todo o tipo de questões... E também de formação de redes, discussões. Agora, na Rio+20, com esse colapso que está acontecendo de liberação de metano, pode vir a acontecer alguma coisa que gere resultados.

JC - O quê?

Milanez - Por exemplo, algo novo e sério em termos de clima, para países que são os maiores emissores - China, Estados Unidos. Apertar o cerco, ter coragem.

JC - E o Fórum Social Temático de Porto Alegre?

Milanez - Vai ser interessante. Nós (Agapan) estamos trazendo um monge budista japonês que trabalha com a questão nuclear e com um povo da ilha dele que é pré-japonês - caso igual ao dos indígenas brasileiros. Estamos articulando com os indígenas daqui. Nossa contribuição é trazer, quando estão pensando em seguir com o programa nuclear brasileiro, um pouquinho da realidade do Japão, que é para ser um país modelo.

JC - Qual é a sua avaliação do governo José Fortunati (PDT) na área ambiental?

Milanez - Não tem coisas muito marcantes. Houve um grande respeito na consulta popular sobre o Pontal do Estaleiro, que demonstrou que a população não quer o que os vereadores querem - (na Câmara Municipal) sempre, invariavelmente, vence a especulação imobiliária. E eu sou arquiteto, não sou contra a construção civil. Sou contra a especulação, porque perde o empresário, o consumidor que compra uma coisa e daqui a pouco a região fica insuportável pela própria especulação. É ruim para todos... Então, a consulta foi positiva. E não somos contra espigões, mas têm que ter recuos (afastamentos) e respeitar o espaço público. Quer um apartamento com vista para o Guaíba? Faz na avenida Icaraí, não na beira do Guaíba. A orla deve ser pública, com o acesso de todos ao rio Guaíba.

JC – E o governo Tarso Genro (PT) na área ambiental?

Milanez - Ainda não dá para dizer a que o Tarso veio.

JC - E o governo Dilma Rousseff (PT)?

Milanez - Dilma foi uma liberadora de obras e o PAC atropelou questões ambientais em várias hidrelétricas, como Barra Grande. Nesse aspecto, desde o ex-presidente Lula (PT) foi um período ruim. O Ibama segurava um pouquinho, agora passou para os estados. É absurdo. E a municipalização é um absurdo também. O Rio Grande o Sul tem o órgão ambiental mais sério do Brasil. Mas a Fepam é do tamanho de nada para dar conta de um Estado desse tamanho. Não é culpa dos técnicos.

JC - A razão do gargalo ambiental na liberação dos investimentos é a falta de equipe dos órgãos governamentais?

Milanez - Claro. São meia dúzia de fiscais. E isso é generalizado, a Smam (Secretaria do Meio Ambiente) tem 0,02% do orçamento de Porto Alegre. Falta equipar os órgãos ambientais no Brasil.

JC - O que o senhor pensa do desenvolvimento da Metade Sul com plantações de eucalipto?

Milanez - É só perguntar aos fazendeiros da região o que está acontecendo em termos de depressão, abandono de mão de obra – porque levaram gente para trabalhar nas plantações, intensivamente, e agora os caras ficam jogados até o próximo plantio ou colheita. E o sujeito que tinha uma terra no Pampa agora está cercado de uma plantação da maior árvore que existe no mundo e que é a maior máquina de evapo-transpiração que existe, seca rio, arroio... Só vai dar para plantar eucalipto. No Rio Grande do Sul, há milhões de anos tem árvores na Metade Norte e não tem na Metade Sul. O razoável seria plantar onde? E o Pampa é um ecossistema delicado, baseado em gramíneas e plantas pequenas, arbustivas. O que aconteceu em Alegrete? Rebaixou o lençol freático, as pequenas plantas não alcançaram, virou deserto.

JC - E fábricas de celulose?

Milanez - Precisamos de papel - eu uso papel -, então, devemos ser coerentes, precisamos de fábrica. O problema é escolhermos isso como vocação. Por exemplo, a pecuária orgânica poderia ser uma boa solução, o arroz orgânico. Mas estamos plantando eucalipto... Em Guaíba, já temos duas ações contra a Riocell (CMPC Celulose). Já propusemos tirar se eles concordassem em retirar o cloro do processo industrial. Aí, disseram que iam tirar o cloro elementar e passar a usar dióxido de cloro. Não aceitamos. Isso aí e uma bomba-relógio para Porto Alegre. Se dá uma acidente naquela fábrica... Cloro é a coisa mais tóxica que existe. Qual é aceitabilidade de dioxina na água? Zero. O branqueamento da celulose deveria ser feito sem nenhum composto de cloro. Então, se sou a favor de fábricas de celulose? Depende onde vai ser instalada e da tecnologia que ela vai usar.


Guilherme Kolling e João Egydio Gamboa

Fonte:
Jornal do Comércio, 02/01/2012.
foto: Marco Quintana/ JC