28 agosto 2013

Agapan comemora lutas em defesa da Orla pública


Juliana Costa, Gert Shinke, Edi Fonseca e Celso Marques. 




Com o objetivo comum de preservar a Orla do Guaíba e protestar contra a privatização dos espaços públicos, a comemoração de 25 anos do “Não ao projeto Praia do Guaíba”, protagonizada pela Associação Gaúcha de Proteção do Ambiente Natural (Agapan) em agosto de 1988, na denominada tomada da chaminé da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, reuniu ambientalistas e integrantes do movimento Ocupa Árvores, que neste ano de 2013 acamparam e fizeram vigília durante 43 dias para evitar o corte de árvores em função da duplicação da avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira Rio, para a Copa do Mundo.


Participaram do debate Gert Schinke, um dos ecologistas que escalou os 107 metros de altura (mais de 300 degraus) da chaminé da Usina do Gasômetro, Celso Marques, na época presidente da Agapan, além de Juliana Costa, integrante do Ocupa Árvores, uma das 27 pessoas que resistiram à derrubada e vai contar a história do grupo, e falar sobre o que aprendeu com essa manifestação, que culminou com a truculenta prisão desses jovens na madrugada de 29 de maio e a derrubada de 100 árvores na praça Júlio Mesquita, bem em frente ao Gasômetro.




Público presente.

O 25º aniversário da subida da chaminé e do Abraço ao Guaíba, realizado em 6 de novembro daquele ano, foram comemorados na fria e chuvosa noite de segunda-feira (26/8), na Câmara de Vereadores da capital gaúcha. Antes do debate foi exibido o documentário "Tomada da Chaminé do Gasômetro: Não ao Projeto Praia do Guaíba”, um registro das muitas ações em defesa da Orla do Guaíba, considerada o principal patrimônio público, natural e cultural, da capital gaúcha.


Vídeo da Tomada da Chaminé do Gasômetro.

 COLAPSO DESENCADEADO

“A memória para o movimento ecológico é muito importante, pois muitos acontecimentos não têm registro”, avaliou Schinke, ao recordar de todo o planejamento “profi” que houve na época. “Fomos preparados para ficar no topo da chaminé por três dias e, para nossa segurança, levamos correntes e cadeados. Hipnotizamos a cidade”, comemora, ao lamentar “a pressão da especulação imobiliária com maior intensidade a cada dia”. Para ele, o agravamento das questões econômicas e ecológicas, se era X, agora é 2X. “A situação só se agrava e está em curso o colapso ecológico”. A “refundação ecológica”, garantindo a autonomia das ONGs como a Agapan, que é 100% voluntária e apartidária, foi defendida por Schinke, assim como o fim do capitalismo, “outro grande desafio”.


PROJETOS INTELIGENTES

O conselheiro e ex-presidente da Agapan, Celso Marques, diz se emocionar sempre que lembra da tomada da chaminé, mas também lamenta o descaso da imprensa. “A omissão, o silêncio e a cumplicidade criminosa da imprensa se perpetua, apesar de todo o risco de privatização da Orla”. Para ele, o aspecto mais importante da ocupação da chaminé foi evitar a privatização da Orla e a demolição do Gasômetro, o símbolo da cidade. “Foi um feito inacreditável, e que envolveu 56 entidades de classe, ambientais e sociais”, afirmou, ao destacar que “a problemática continua”.


“A imprensa nunca colocou com honestidade o enfoque mais técnico de nossas críticas ao projeto da Copa”, analisa Marques, ao salientar que não se oporia a cortar mil árvores para fazer um projeto inteligente. “O problema é que esse projeto da Copa é burro e representa um retrocesso, por isso das nossas insistências em discutir um projeto viável do ponto de vista ambiental e de mobilidade”, avalia.

FRUSTRAÇÃO E PROMESSA



Ocupa árvores esteve por 38 dias acampado na orla do Guaíba.

O grupo heterogêneo que se formou a partir das redes sociais, com o objetivo de evitar o corte das árvores no entorno da Usina do Gasômetro e criticando a inexistência de projetos alternativos em função da Copa de 2014, foi além da ideia de grupo fechado, como foi a Agapan em 1988, analisou Juliana Costa. “O acampamento foi oposto ao planejamento da Agapan, pois nossa formação, de ambientalistas e jovens estudantes, foi espontânea e começou com duas barracas”, recorda. Para ela, há militantes não ambientais sensíveis às questões ambientais.

A retirada do grupo em ação da Brigada Militar na madrugada chuvosa do dia 29 de maio foi frustrante, na avaliação de Juliana, “não pela ação, mas pela forma violenta, após quase dois meses acampados no local”. Ainda se sentido a dor da ação e a frustração do corte das árvores, Juliana destaca, como pior, a “indignidade de termos que catar roupas, tênis e documentos na chuva, em frente a delegacia no centro da cidade”, onde os manifestantes do Ocupa Árvores permaneceram presos até terminar os cortes das árvores. “Essa é nossa triste história, mas a luta continua”, afirma.


Para Juliana, mais do que importante, o ambiental é fundamental para o político, o social e o econômico. “Integrar esses campos pode ser uma caminha pra sensibilizar as pessoas”, finalizou.

Informações
Assessoria de Imprensa da Agapan/RS
Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues


Imagens: César Cardia/ Adriane Bertoglio Rodrigues/ AGAPAN

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