Rua Anita Garibaldi (AGAPAN/ Nessa) |
Assistimos a um surto de obras em
Porto Alegre, entre elas a denominada Trincheira da Anita, que projeta a
escavação da rua Anita Garibaldi, plantando um viaduto em seu cruzamento com a
avenida Carlos Gomes, com o alçamento de paredões de concreto em ambos os lados
da via e, dali, extirpando 240 árvores de médio e grande porte. Obra
com dotação orçamentária original de 10 milhões de reais, já revistos e
suplementados para 16 milhões. Verbas da Copa.
Os moradores da rua manifestam-se
contrários, no que têm o resoluto apoio da Agapan. Nos dias de hoje, todos já
vimos quem tende a ganhar e a perder com obras de gigaeventos, como os jogos
Pan-Americanos do Rio de Janeiro e agora essa Copa do Mundo. Temos também uma
vaga noção de como ganham. É ainda difícil ao cidadão comum o acesso aos
complexos detalhes técnicos e aos costumes que regem o fluxo das enormes somas
disponibilizadas.
Essa obra, em particular, tem como
justificativa melhorar o trânsito de veículos nas ruas de Porto Alegre, mais e
mais congestionadas pelo crescimento diário do número de automóveis.
Por
enquanto, apenas o poder público tem convicção de sua necessidade e utilidade,
já que a sociedade, tendo à frente os moradores, foi sistematicamente ignorada
na tentativa de sua discussão, só obtendo atenção após a ocupação da rua,
acampando na frente das máquinas.
Aliás, estima-se hoje que 70% dos
automóveis em circulação diária na cidade levam apenas o motorista. Uma
tonelada, no mínimo, para transportar 70 kg. Convenhamos, em termos
energéticos, coisa do século XIX.
Com os avanços tecnológicos de nossos
dias, como a nossa sociedade não enxerga essa escancarada realidade? Ou melhor,
por que não enxergamos essa escancarada realidade? Como nos conformamos com as
condições viárias de Porto Alegre, que todos conhecemos? Como podemos acreditar
que a solução disso tudo está em mais e mais obras, que, construídas com
inestimáveis custos ambientais e sociais e enormes aportes financeiros,
inauguram-se já desatualizadas? Posta a nova via em funcionamento, a resposta é
sempre a mesma: ficou ruim, mas sem ela seria pior. Verdade ou não, optamos por
aceitar a piora com otimismo.
Enquanto isso, capitais como
Amsterdam gozam de outro problema, a falta de espaço para estacionar...
bicicletas, para cuja solução vêm testando algumas tecnologias. Enquanto isso,
nós, imbecilizados no interior de uma brilhante carcaça, com som e ar
condicionado, levamos 10 minutos, ou mais, para andar 100 metros. Não importa,
ela brilha, ela nos protege e nos diferencia. Ela nos dá, sobretudo,
identidade! Imbecilizados, eu disse.
Não estamos sozinhos em Porto Alegre.
O Planeta Terra funciona assim. Zilhões de tonéis de petróleo
refinados para gerar gasolina, fazendo de cada um de nós o feliz contemplado
com parte da responsabilidade no lançamento de toneladas de Carbono na
atmosfera. Aquecimento global, alguém lembra?
Nós, da Agapan, apoiamos a luta dos
moradores da Rua Anita Garibaldi por entendermos que esse modelo destruidor de
vegetação e vida e gerador de concreto, com seus valores falidos e recursos
desperdiçados, está errado.
Trabalhamos por uma sociedade atuante
e informada, que se mobilize e também escolha representantes e administradores
realmente comprometidos com a manutenção de um meio ambiente equilibrado e
saudável, que se posicionem claramente contra esse atual modelo de
hiperconsumo, que incentivem investimentos na pesquisa de novas tecnologias
para dotação de um transporte público que constitua, realmente, alternativa ao
automóvel individual.
Representantes que exijam nada menos que isso, não só das
empresas permissionárias, mas também das demais instâncias de governo, que
incentivem o uso de transportes alternativos, que proponham uma mudança
cultural, dizendo que, daqui por diante, nossa cidade vai preservar cada
centímetro de sua vegetação, e que, em suma, vai rejeitar esse modelo perverso
e já insuportável.
Por Eduardo Finardi Rodrigues,
conselheiro da Agapan/RS
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