28 setembro 2020

Sinal de fumaça

Região do Pantanal | Foto: Mayke Toscano/Secom-MT - Fotos Públicas
Região do Pantanal | Foto: Mayke Toscano/Secom-MT - Fotos Públicas


Por Heverton Lacerda* | Artigo de opinião

A mensagem está clara, e só não decifra quem não quer ou quem está com os sensores debilitados. O BERÇO ESPLÊNDIDO ESTÁ QUEIMANDO! O fogo está destruindo milhares de hectares de florestas e exterminando incontáveis populações de seres viventes na Amazônia e no Pantanal. Além do sinal de morte no céu, que neste caso não é o limite, a imprensa profissional e diversas plataformas de internet ajudam a ampliar a lamentável notícia: O Brasil está incinerando suas florestas, matando a fauna local e abrindo porteiras para a ampliação de um modelo rural ecocida, o agronegócio ilegal, também conhecido, em sua versão legalizada, como AgroPop, aquele que envenena terras e recursos hídricos, mata, exporta commodities "envenenadas" e ainda não paga impostos estaduais pelos produtos exportados.
 
A fumaça desses crimes já ultrapassa divisas, limites e fronteiras. Ou seja, diversas prefeituras, estados e até outros países já sofrem alguma forma de impacto, direto ou indireto. Assim, passam a estar legitimados a defenderem suas comunidades. 
Ou os representantes eleitos tomam alguma atitude urgente, ou se entregam ao discurso equivocado, simplista e completamente mal intencionado do atual presidente do Brasil, de que "o país é exemplo de preservação ambiental". Essa, por sinal, é mais uma das cortinas de fumaça criadas pelo mandatário inconsequente para esconder uma realidade que, neste caso, nem ele próprio tem condições de compreender, em relação à universalidade ecológica interdependente. 

O fato de o gigantesco Brasil ainda ter grandes áreas preservadas, com grande valor internacional, não é razão para autorizar, e muito menos incentivar, a destruição criminosa. Ao invés de permitir o roubo de terras públicas, deveria, se capaz fosse, trabalhar para que os recursos naturais da população rendessem riquezas para a própria população, e não apenas para os amigos da corte. Mas, ao contrário, Bolsonaro (sem partido) mostra suas más intenções ao manter no cargo um ministro que deixa clara a maldade também intencional de se aproveitar da fragilidade nacional com o Covid-19 e suas milhares de mortes, em pleno cenário de intensificação das mudanças climáticas, para "deixar a boiada passar". E quem não sabe que a passagem da tropa vem com a destruição da floresta para posterior tentativa de regularização para o agronegócio? E quem não sabe que depois de tantos crimes ambientais vêm o trabalho parlamentar de aliados para alterar leis e perdoar crimes? Quem ainda estaria tão mal informado para não saber disso? 

É possível manter o patrimônio natural preservado e em poder da cidadania brasileira. Não é preciso entregar ativos públicos valiosíssimos para pequenos grupos privados, muitas vezes fora da lei, que se apoderam dos lucros que deveriam ser de todos os brasileiros. Esta, inclusive, tem sido uma prática de diversos governos há séculos por aqui. Não é à toa que o Brasil ostenta uma das piores marcas em desigualdade social entre os países no mundo inteiro. A sina de colônia insiste em não nos deixar, e com governos entreguistas, incapazes e subservientes, como o atual, o retrocesso volta a surgir no horizonte, também, em forma de linhas de fogo. Tem muita fumaça e tem incêndio criminoso ceifando vidas. O sinal não é claro, como a fumaça fuliginosa não é, mas é evidente, contundente e irrefutável.

Heverton Lacerda é jornalista e vice-presidente da Agapan

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