Quarto jovens no dia 6 de fevereiro subiram nas árvores para impedir obra da Copa 2014 que planeja derrubar 115 árvores no cartão-postal da cidade. (foto: Cintia Barenho/CEA) |
A seiva da Tipuana é vermelha como sangue. (foto: Cintia Barenho/CEA) |
1.
O mínimo que desejamos para a nossa cidade é o melhor. Por esta
razão, a AGAPAN não aceita o projeto da Prefeitura de Porto Alegre
nos termos em que está proposto. QUEREMOS UMA MUDANÇA SUBSTANCIAL
NO PRÓPRIO PROJETO, mas a PMPA até agora só admite compensações.
2.
A PMPA decidiu derrubar 115 árvores para ampliação da Av. Edvaldo
Pereira Paiva, no entorno da Usina do Gasômetro. Já foram
suprimidas mais de uma dezena de magníficas árvores. Este número
só não foi maior pela consciência de preservação da arborização
urbana iniciada em 1975, com a subida do militante da AGAPAN, Carlos
Dayrell, em árvores da AV. João Pessoa, gesto reeditado por jovens
que também subiram nas árvores daquela avenida, impedindo que as
mesmas fossem cortadas. Esta atitude expressa o quanto o sentimento
de preservação ambiental da população de Porto Alegre, iniciado
com a fundação da AGAPAN em 1971, consolidou-se ao logo destes 42
anos. Lastimamos, porém, que a visão do poder público municipal
não tenha acompanhado o sentimento dos porto-alegrenses, que desejam
suas árvores preservadas e não o alargamento de vias que atendam
apenas aos carros e não aos anseios de seus habitantes.
3.
Queremos o melhor para Porto Alegre. Por esta razão, é imperioso
que a PMPA cumpra a legislação e apresente "o Estudo de
alternativas locacionais e tecnológicas, para ser comparado,
inclusive, com a alternativa zero". Enquanto não provar que o
projeto proposto é a melhor alternativa para a cidade, a Prefeitura
irá impor sua posição irracional e autoritária, não discutindo
com a coletividade e acenando apenas com compensações.
4.
Desde 1988 estamos sob nova Constituição, que obriga e valoriza a
participação popular. Foi essa participação popular que,
aprimorando o Plano Diretor vigente, criou o Parque do Gasômetro,
sancionado pelo próprio prefeito José Fortunati. Parque este que
inclui as Praças Brigadeiro Sampaio e Júlio Mesquita, a Usina do
Gasômetro e sugere uma avenida subterrânea, para não cortar e
comprometer o parque das pessoas. Ora, a Prefeitura tem que cumprir
sua obrigação legal assumida, e não propor o alargamento dessa
avenida! O Parque do Gasômetro, além de referência cultural e
símbolo da cidade, é o ponto predileto dos porto-alegrenses
matearem e assistirem o pôr do sol diariamente.
6.
Portanto, a AGAPAN propõe que a PMPA tenha a grandeza de
reconsiderar o projeto, contemplando alternativas e abandonando a
intransigência técnica de considerá-lo uma opção única e
inegociável, dando como contrapartida apenas compensações.
7.
A AGAPAN, nos seus 42 anos de atuação pioneira, deu uma
contribuição decisiva para a democratização do Brasil, a
ecologização do imaginário porto-alegrense, gaúcho e brasileiro;
para a criação da legislação ambiental e de instituições
públicas encarregadas de implementarem uma política e uma
administração ambiental. A própria Secretaria Municipal do Meio
Ambiente de Porto Alegre, a nossa SMAM, primeira secretaria municipal
do meio ambiente a ser criada no Brasil, veio a existir graças à
atuação da AGAPAN.
Os
70 km de Orla do Guaíba, menina dos olhos da especulação
imobiliária e o mais valioso patrimônio público da coletividade
porto-alegrense, não foram privatizados graças à vigilância e
atuação política da sociedade civil organizada. Nenhuma
sustentabilidade econômica e ecológica pode ser construída à
revelia do que de melhor a ética e a racionalidade política
produziram na cultura da humanidade. Não podemos aceitar, hoje, a
vigência tão atual do diagnóstico feito há quase cem anos por
Assis Brasil, um dos maiores gaúchos de todos os tempos, quando
disse: “UM DESERTO DE HOMENS E IDEIAS”.
AGAPAN
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