Terça
Ecológica abordou a ineficácia dos governos perante às questões
ambientais e enfatizou a capacidade de promover mudanças da sociedade
civil
Por Sarah Bueno Motter - especial para a EcoAgência
EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais
Imagens: Adriane Bertoglio Rodrigues/ Agapan
Falar
da Rio+20 é falar sobre o rumo do ecologismo, o rumo da humanidade e do
planeta. É também refletir sobre quais caminhos os países tomaram,
depois de duas décadas da Eco 92 e refletir se afinal as nações
avançaram ou retrocederam. Na Terça Ecológica deste mês (ontem, 14), as
jornalistas Raissa Genro e Eliege Fante, o biólogo e arquiteto Francisco
Milanez, presidente da Agapan e o engenheiro agrônomo Arno Kaiser,
presidente do Movimento Roessler, compartilharam suas perspectivas e
vivências da Rio+20, além de uma avaliação do maior evento sobre meio
ambiente das últimas décadas.
A Terça Ecológica procurou abranger a complexidade de um evento que
reuniu sentimentos diversos dos militantes, esperanças e frustrações.
As jornalistas Raissa Genro e Eliege Fante, representando o NEJ-RS e a
EcoAgência, relataram suas experiências ao cobrir as atividades da
Cúpula dos Povos na Rio+20, em conjunto com as jornalistas Danielle
Sibonis e Ana Paula Knewitz. A diversidade apresentada na Cúpula mostrou
que o desejo de mudança vem de muitos lados da sociedade - desde as
grandes ONGs aos movimentos menos articulados ou ainda não
institucionalizados.
Devido à diversidade das pessoas e causas, “as pautas brotavam de
todos os lugares” afirmou Raissa. Eliege contou que, a partir da
perspectiva de jornalistas ambientais, a equipe do NEJ-RS percebia boas
histórias em todos os caminhos que passavam e, por isso, ao contrário da
mídia hegemônica, tiveram “tempo para escutar quem não estava no
palco”.
A Cúpula, afirmam as jornalistas, evidenciou a necessidade urgente
da humanidade se reaproximar à natureza. Os povos, segundo elas, têm
suas próprias soluções para a crise ambiental e econômica e merecem ser
ouvidos e ter respeitados os seus modos de vida. Eliege enfatizou o
potencial individual de “fazer acontecer”. Ao mudar hábitos e voltar a
atenção para o que realmente importa, o que nos inquieta, vimos abrir
espaço e tempo para de fato agir na sociedade.
Milanez apontou a complexidade das negociações da Rio+20 que
envolvem lobbies e discussões minuciosas sobre legislações e economia.
Existe uma necessidade de muitas informações para tratar dos temas e às
vezes nem todos os países estão preparados para discutir os assuntos num
mesmo patamar. Milanez apontou o fracasso da ONU como um órgão de ação
para os problemas mundiais. Para o arquiteto “a ONU é a expressão mais
centralizada da economia mundial”, pois quem comanda seus rumos são os
países mais ricos.
O presidente da Agapan falou que a Cúpula foi boa no sentido de
mostrar que nada melhorou em relação à Rio 92. Porém, mostrou-se
afastada da base, “representou uma desconexão entre as ONGs e a
população”.
A decepção em relação à ONU também foi evidenciada por Kaiser. O
agrônomo avalia que o órgão é impotente para resolver os problemas
ambientais. O presidente do Movimento Roessler evidenciou que a
dificuldade para o encontro de soluções se encontra no âmago das
relações cotidianas. Lembrou que, o ser humano, muitas vezes, não
consegue dialogar nem com seu vizinho. Para ele, também a Cúpula dos
Povos, apesar do pluralismo, refletiu algo em si mesmo, sem alcance para
a base da sociedade. Ele ainda avalia que a humanidade não percebeu
que as “leis da ecologia precisam ser seguidas”.
Kaiser aponta que as ações coletivas da sociedade são muito
imaturas, se espera um “salvador da pátria” para a resolução dos
problemas de maneira que a população se aliena de sua capacidade de
mudança.
Na segunda parte da Terça Ecológica, o público presente também deu a
sua opinião. Evidenciou-se um consenso perante a necessidade de
oxigenar o movimento ambientalista com pessoas jovens que se empoderem
também das causas ambientais. O poeta Pedro Marodin sensibilizou a todos
com performance do texto “Parada Cardíaca”, falando sobre a destruição
da biodiversidade em nosso país, por causa do agronegócio.
Por Sarah Bueno Motter - especial para a EcoAgência
Imagens: Adriane Bertoglio Rodrigues/ Agapan
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