17 março 2012

A ecofeminista Giselda Castro(1923-2012): Cidadã do Mundo e exemplo de cidadania local-global.


O falecimento da ecologista e feminista gaúcha Giselda Castro deixou a Diretoria, o Conselho Superior e os membros mais antigos da ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE PROTEÇÃO AO AMBIENTE NATURAL (AGAPAN) em estado de consternação.    Sua longa doença e a idade avançada nos privaram do seu convívio nos últimos anos. No entanto, mesmo afastada da militância diária do movimento ecológico e feminista, a simples consciência da  existência da sua pessoa era uma força inspiradora para o nosso cotidiano de ativismo ecológico. Pois Giselda era uma mulher guerreira, uma destas pessoas raras,  indispensáveis e insubstituíveis, uma liderança exemplar e carismática. 

A convivência desta cidadã do mundo, junto com Magda Renner, Hilda Zimmermann e José Lutzemberger e a AGAPAN,  foi decisiva para levantar  a bandeira de luta dos movimentos ecológico e feminista em um mesmo e inseparável movimento. Este feito pioneiro inaugurou entre nós o ecofeminismo como movimento social, ampliando e radicalizando o horizonte político tanto do movimento feminista como do movimento ecológico.

A opressão da mulher e a repressão da expressão da sua  feminilidade na cidadania são aspectos inseparáveis da cultura e da estrutura de poder que sustenta e legitima a ordem social existente. Partindo-se deste pressuposto, o legado político do caminho que Giselda e suas companheiras feministas começaram a desbravar através do ecofeminismo, levou a uma novidade radical. No movimento feminista, a prioridade dada ao enfoque de gênero, tende a polarizar os conflitos entre os âmbitos masculino e feminino, reduzindo o alcance e o horizonte  crítico do movimento. Da mesma forma, a não-inclusão da opressão-repressão da feminilidade no movimento ecológico, empobrece e estreita o seu horizonte.

A novidade radical descoberta por Giselda, Magda, Hilda e suas companheiras, aboliu as fronteiras entre feminismo e movimentos ecológico. A superação das limitações impostas pela separação entre os dois movimentos deu-se através da participação delas no movimento ecológico. Desta maneira, a luta ecológica ampliou o horizonte político do exercício da cidadania como expressão de plenitude da condição feminina. Este foi um feito pioneiro do qual todos nós nos orgulhamos.

Ao longo dos anos, em numerosas oportunidades, testemunhamos a participação brilhante de Giselda Castro no cotidiano do movimento ecológico. Celso Marques, lembra a  a sua atuação em Washington, na primeira reunião de ecologistas do mundo inteiro com a direção do Banco Mundial, em outubro 1989. Lá estava ela, já uma respeitável senhora, combativa, exemplar, indignada, com o dedo em riste, questionando em inglês fluente a política de financiar o etnocídio e o ecocídio praticada pelo Banco Mundial. Naquela ocasião ele estava lá. Mas inúmeras vezes que ela atuou com generosidade e desprendimento, encarnando os ideais do ecofeminismo na defesa dos interesses do Brasil e do Planeta, sem nenhuma testemunha.

As mulheres sempre tiveram uma forte presença no movimento ecológico. Atualmente a participação feminina é dominante e majoritária na AGAPAN, condição que faz da entidade um reduto ecológico do feminismo e de admiração por Giselda Castro e suas demais companheiras. Para nós, homens e mulheres da AGAPAN, o culto à lembrança desta personalidade emblemática de agora em diante será inseparável do Dia Internacional da Mulher e da inspiração do seu exemplo no nosso cotidiano.

Finalizando, dirigimo-nos aos familiares de Giselda Castro e aos companheiros de lutas da antiga ADFG-Ação Democrática Feminina Gaúcha-Amigos da Terra, atual Núcleo de Amigos da Terra-NAT para dizer: nós,  da AGAPAN, que tivemos o privilégio de conviver com a Giselda em anos e anos de lutas conjuntas, jamais a esqueceremos. Juntos com vocês  cultuaremos a memória da sua liderança carismática até o fim dos nossos dias. 

Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. 

Foto: Arquivo do Núcleo Amigos da Terra.

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