26 abril 2011

Pioneiros do ambientalismo gaúcho prestigiam homenagem à Agapan


Primeira associação ambiental da América Latina completa 40 anos neste dia 27. Câmara de Vereadores presta homenagem.

Os 40 anos da Agapan foram homenageados hoje à tarde, durante Tribuna Popular, pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural foi fundada em 27 de abril de 1971, por José Lutzenberger, Augusto Carneiro e Hilda Zimmermann, estes, guerreiros de 88 anos, que acompanharam a cerimônia, ao lado de associados, conselheiros, simpatizantes e ambientalistas de entidades parceiras, como União Pela Vida, Centro de Estudos Ambientais, Amigos da Terra , Mira Serra, Apedema, Núcleo de Ecojornalistas do RS – Nej e a representante da Delegacia do Meio Ambiente da Polícia Civil. Da Agapan, destaque para os ex-presidentes Celso Marques e Francisco Milanez, os atuais Eduardo Finardi e o vice Celso Waldemar, e os conselheiros Udo Mohr, Sandra Ribeiro e Adriane Bertoglio Rodrigues, jornalista.

Hilda e sua filha Lívia Zimmermann, da União Pela Vida, são as ambientalistas engajadas nas causas indígenas. Hilda, que hoje (25) completou 88 anos, fundou a Agapan. Ela conta que em 1980 se retirou da entidade para fundar a Associação Nacional de Apoio aos Índios. Em seguida foi fundadora da União Pela Vida, que tem os indígenas a diretoria que ela coordena. De 1993 a 2003, presidiu a Sociedade dos Amigos da Amazônia Brasileira. “Divulgamos pelos cinco continentes o apelo para ajudar e salvar a Amazônia. No Brasil, todas as denúncias eram envidas para a Promotoria Ambiental”, lembra Hilda.

Até o final deste ano, o Arquivo Histórico do Estado vai inaugurar a exposição de Hilda Zimmermann, sobre os embates pela demarcação de terras indígenas, a criação de parques ecológicos, contra a matança de baleias e se dedicou a ações sociais e solidárias em favor das crianças e dos adolescentes em situação de rua na busca de sua cidadania. “Doei mais de 12 mil documentos do meu acervo, que contam a história de muitas comunidades indígenas, sua cultura, suas práticas, e a importância de sua preservação”, diz, orgulhosa, ao contar os “40 anos pela Amazônia”. A doação foi no dia 10 de março deste ano. A documentação passa por medidas de higiene para ser incorporada oficialmente ao Arquivo Histórico, juntando-se ao acervo de outro defensor do meio ambiente, Henrique Luís Roessler, que iniciou o empenho pela defesa dos ecossistemas gaúchos

PRESERVAÇÃO GLOBAL E LOCAL

Salvar a Amazônia é tão importante quanto salvar uma árvore. Na luta local para sanar a demanda global, Augusto Carneiro é um defensor das árvores. “O trabalho inicial da Agapan foi o mais importante para salvarmos as árvores de Porto Alegre”, afirma, perguntando se tá tinha me dado uma cópia dos vários documentos, textos, defesas, que ele distribui, incansavelmente, há 40 anos, desde seu engajamento na luta ambiental, sensibilizado pelas ações e denúncias de Roessler e ao lado de José Lutzenberger.

Coincidência ou não, o texto que ele me deu é uma crítica do professor Luiz Galvão, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), intitulada Arborização ainda é deficiente e publicada em 7 de maio de 1982. No verso, uma carta que ele escreveu para o colunista Fernando Albrecht, do Jornal do Comércio, em 8 de dezembro de 2006, Augusto Carneiro denuncia a pintura das pedras naturais de uma praça de Porto Alegre. Ao final da carta, “picante”, Carneiro anuncia, de anexos, “oito artigos “ecológicos”, mencionando as pinturas de árvores, que V. S. pode aproveitar, querendo, para qualquer uso”.

DESAFIO CLIMÁTICO

“Nunca a luta ambiental foi tão necessária e importante”, afirmou o presidente da Agapan, Eduardo Finardi, lembrando entrevista do governador Tarso Genro, onde analisa a tragédia do último final de semana no município de Igrejinha, que vitimou 12 pessoas, com os deslizamentos de terras em encosta de morros durante chuvas torrenciais, ocorridos na madrugada de sexta (22) para sábado (23 de abril). “São reflexos do aquecimento global e nós não somos exceção”, atentou Finardi. O ambientalista citou previsões da Marinha Mercante, de que, entre 2013 e 2017, haverá o total derretimento do Pólo Ártico. Também destacou que, de acordo com o IPCC, da Onu, até o ano de 2050, o mundo terá de 75 a 150 milhões de refugiados climáticos pela falta de condições de habitação em diversos lugares do Planeta. “Não há indícios de que esses eventos e previsões diminuam. Eles devem se intensificar”, lamenta o presidente da Agapan, que lembrou, em seu agradecimento pela homenagem, vários momentos de luta da instituição ao longo de quatro décadas de história.

A presidenta da Câmara de Vereadores, Sofia Cavedon (PT), lembrou que, “pela importância das lutas que ocorreram a partir da fundação da Agapan e pelo impacto global da degradação ambiental, que acompanhamos diariamente pela mídia, é que a Câmara de Vereadores elaborou uma Moção pela necessidade de ampliarmos as discussões sobre o Código Florestal, e para que fossem retirados os mecanismos de atropelo à aprovação”, diz, ao salientar a entrega do documento à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, na semana passada, em Conferência sobre o Código Florestal, sendo encaminhando também para a presidenta Dilma Roussef, e deputados federais. De acordo com o presidente do Congresso Nacional, deputado Marco Maia (PT), o projeto será votado no início de maio.

PIONEIRISMO

Augusto Carneiro, Hilda Zimmermann e os demais integrantes da Agapan foram homenageados pelos vereadores Beto Moesch (PP), proponente, Carlos Todeschini (PT), Pedro Ruas (PSol), Toni Proença (PPS) e Dr. Raul Torelly (PMDB). “Foi o Carneiro que organizou, normatizou e estruturou o movimento ecológico gaúcho”, destacou Moesch. “A Agapan é genuinamente gaúcha, criada por gaúchos”, exclama o vereador, ao citar, entre as conquistas da entidade a criação de leis ambientais, a conscientização quanto aos malefícios das podas, e a criação da primeira secretaria de meio ambiente do país. “A Agapan ajudou a criar outras entidades ecológicas em Porto Alegre e no interior do Estado. Foi um movimento político e não partidário”, disse.

“A Agapan nasce no auge da revolução verde, numa época em que o mundo era dos adubos e dos venenos, dos agrotóxicos”, observa Todeschini, “e impôs um modelo de desenvolvimento que acabou com muitas perdas e mortes, como as crianças nascidas com deformações, que aconteceram no Norte do Estado”, lamenta, ao salientar a importância da atuação da Agapan na denúncia desses excessos.

Para o vereador Pedro Ruas, “esses 40 anos reforçam os nossos compromissos de defesa ambiental”. Ele cita a luta em defesa da Orla do Guaíba uma das dificuldades enfrentadas em Porto Alegre, cuja população “precisa ver a cidade de outra forma”. O mau uso da natureza e a degradação da Orla, dos morros e das nascentes foram denunciados pelo vereador Proença, que afirmou que “a diversidade é vida, assim como a pluralidade”.

Por Adriane Bertoglio Rodrigues, Agapan

Creditos da Foto: Elson Sampaio, Câmara de Vereadores.

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