12 dezembro 2012

Movimento Ecológico Gaúcho manifesta-se sobre a ampliação de megainvestimento da Celulose Riograndense no RS

Máquina corta, derruba e descasca eucalipto. (imagem: Minamar Júnior)




Ampliação de megainvestimento da Celulose Riograndense: o “salva-vidas
de chumbo 2.0” para o Estado?



A Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Rio
Grande do Sul – APEDEMA/RS, vem a Vossa Senhoria manifestar sua
posição em relação à ampliação de megainvestimento da Celulose
Riograndense em nosso Estado.
 
Na década de 70, justamente durante o surgimento do movimento
ambientalista no Brasil, e em especial com a criação da AGAPAN, houve
um dos mais importantes embates contra as empresas poluidoras no
Estado do Rio Grande do Sul. Tratava-se do caso da empresa de celulose
Borregaard, que começou suas atividades, em 1972, na cidade de Guaíba.
O nome da empresa chegou a ser sinônimo de mau cheiro (odor de repolho
podre) que afetava a zona sul de Porto Alegre e, não raras vezes, toda
a cidade.
Fábrica da Borregaard e movimento ecológico que contou com participação 
  de crianças contra a fábrica de celulose.


Em 1974, a referida empresa teve o cancelamento de seu funcionamento
por mais de três meses até que resolvesse todos os aspectos relativos
às emissões aéreas e aos efluentes resultantes de sua operação,
considerados nocivos à saúde pública e ao meio aquático. Depois da
Borregaard, veio a Riocell, logo depois a Aracruz, e agora a Celulose
Riograndense, de capital chileno (CMPC). Esta última anuncia agora sua
ampliação (de 400 milhões de toneladas para 1,75 milhões de
toneladas), alardeando a criação de milhares de empregos, como a
Aracruz fez em 2008, antes de quebrar. Mas pouco se fala que 90% da
celulose produzida serão para exportação e menos de 10% para sua
transformação em papel, aqui no Brasil.
Fábrica passou de Aracruz para Companhia Riograndense de Celulose, planta  em 2009. " Dizia na foto da ZH:   Planta em Guaíba precisa de mais US$1,5 bilhão de investimento Foto: Divulgação"

Cabe lembrar que em 2008, a então empresa Aracruz, que anunciava
também a ampliação da planta industrial, e que possuía investimentos
do BNDES, tinha aplicado em derivativos (especulação financeira),
tendo sido afetada pela crise econômica mundial, gerada nos EUA, vindo
a perder em poucas semanas algo como 2 bilhões de reais.

Nestas quatro décadas, o crescimento da planta industrial não
eliminou, de todo, o cheiro ruim, principalmente no município de
Guaíba. Além disso, pairam sérias dúvidas, de parte de técnicos da
FEPAM e também de ambientalistas de renome, como o Prof. Flávio
Lewgoy, sobre os sérios riscos à saúde humana e meio ambiente, ligados
a enorme carga de poluentes (dioxinas, furanos, gases de enxofre,
etc.) gerados por este e outros empreendimentos industriais
concentrados na região.

 
Qualidade do ar em Porto Alegre e Canoas  - BR 116 (Imagem ZHora)

Cabe destacar que estamos lidando com um voo no escuro, tanto do ponto
de vista ambiental como econômico. Atualmente, a FEPAM tem sua rede de
monitoramento da qualidade do ar na Região Metropolitana de Porto
Alegre praticamente sucateada, ou seja, sem funcionar. Por outro lado,
a SEMA não consegue fiscalizar a implantação de todos os megaplantios
de eucalipto que convertem parte importante do que resta de campos
nativos do bioma Pampa, por falta crônica de técnicos e de condições
adequadas de trabalho. Esta semana, mais uma vez, documentos das
associações de funcionários da FEPAM e DEFAP chamam a atenção à
sociedade gaúcha sobre a falta de solução também com respeito ao
prédio parcialmente interditado da SEMA, há quase 10 meses.

Em relação a estes megaempreendimentos de celulose associados a
monoculturas arbóreas – também criticados no Chile, Uruguai e
Argentina - há alguns anos, o escritor uruguaio Eduardo Galeano
escreveu um artigo marcante, denominado “Salva vidas de Chumbo” (2007)
questionando semelhantes megainvestimento de celulose em seu país:

Passivo resultante da plantação de eucalipto e pinus.

O que esses esplendores nos deixaram? Nos deixaram sem herança nem
bonança. Jardins transformados em desertos, campos abandonados,
montanhas esburacadas, águas apodrecidas, longas caravanas de
infelizes condenados à morte antecipada, palácios vazios onde
perambulam fantasmas...Agora, chegou a vez da soja transgênica e da
celulose. E outra vez repete-se a história das glórias fugazes, que ao
som de seus clarins nos anunciam longas tristezas.[...] A celulose
também está na moda, em vários países. Agora, o Uruguai está querendo
se transformar num centro mundial de produção de celulose para
abastecer de matéria prima barata as longínquas fábricas de papel.
Trata-se de monocultivos para a exportação, na mais pura tradição
colonial: imensas plantações artificiais que dizem ser bosques e se
convertem em celulose num processo industrial que arroja detritos
químicos nos rios e torna o ar irrespirável.

O Estado do Rio Grande do Sul não merece ser, mais uma vez, palco de
megainvestimentos de alto risco, ligados a um jogo econômico que, de
antemão, concentra capital na mão de poucos, espalha monoculturas e
ameaça a saúde da população e ao meio ambiente.

A Sociedade Gaúcha clama a responsabilidade de seus governantes para
que se abandonem as atividades calcadas em gigantescos
empreendimentos, de alto risco, e priorizem sua atenção aqueles
setores que mais estão associados à sustentabilidade
econômico-ecológica como as tecnologias sociais, associadas
prioritariamente em energias brandas, a agroecologia, ao turismo rural
e ecológico, entre outros.

Porto Alegre, 12 de dezembro de 2012.


Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do RS

Excelentíssimo  Senhor
Tarso Genro
Governador de Estado

Excelentíssimo  Senhor
Alexandre Postal
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado

Excelentíssimo  Senhor
Helio Corbellini
Secretário Estadual do Meio Ambiente


Imagens: Zero Hora
Site Poa resiste

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