Imagens de área devastada na Amazonia.(Mario Tama/Getty Images)
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Voluntários da "Rio de Paz" com máscaras para denunciar o problema na fome dos países representados por bandeiras e pratos. (Reuters/Ueslei Marcelino)
Vigília noturna na Rio +20. (Reuters/Ana Carolina Fernandes)
Dança tribal da tribo Guarani Iandewa na Vila Kari-Oca .
Incendio ilegal de mata na Amazonia. (Mario Tama/Getty Images)
Centenas de pessoas fazendo ação para mais atenção aos Rios.(AP Photo/Amazon Watch)
Introdução
foto: (Reuters/Siemens)
A
delegação da AGAPAN que participou da Cúpula dos Povos no contexto da Rio + 20 elaborou
a presente avaliação geral do evento para que seja partilhada e aperfeiçoada
com as contribuições dos demais ecologistas gaúchos que lá estiveram. A avaliação
é coletiva, por um grupo de pessoas da Agapan, visa analisar a multiplicidade e
a complexidade de tudo o que aconteceu na Cúpula dos Povos. A pluralidade e a
riqueza dos contatos e comunicações excederam as capacidades individuais e
grupais de assimilação,impondo limites às possibilidades de sintetizar e de
avaliar numerosos aspectos de toda a complexidade informacional que por lá circulou.
No entanto, cada um de nós teve uma experiência cognitiva pessoal,
compartilhada e sintetizada na percepção política da nossa delegação.Com consequência,
o documento é uma descrição contextualizadora e uma avaliação ecopolíticada
Cúpula dos Povos, sem a pretensão de ser uma análise definitiva do evento.
Salientamos que, além da nossa participação na Cúpula dos Povos, a reunião de
avaliação foi fundamental para constatar que a AGAPAN oferece aqui subsídios
críticos a serem considerados para o estabelecimento de diretrizes e
encaminhamentos políticos, que conduzirão a atuação no movimento ecológico nos
próximos anos.
Um novo mundo não apenas possível, mas
acontecendo
(Mario Tama/Getty Images) Belo Monte
(Mario Tama/Getty Images) Belo Monte
A tomada
de consciência da crisecivilizatória instaurada pelo movimento ecológico
constitui a matriz de complexidade cultural e política de um novo projeto de
civilização. A gestação dessa matriz é um desafio sem precedentes, que abrange
todos os aspectos da cultura e das instituições sociais que a humanidade criou
ao longo da sua história. Contrapondo-se à inexistência de um consenso político
no âmbito dos interesses econômicos e dos estados nacionais, causador do
retumbante fracasso da Rio+20governamental, avariedade e a riqueza de eventos
simultâneos ocorridas na Cúpula dos Povos expressou um consenso à altura deste
desafio.
O que lá
foi mostrado evidencia que, sem visibilidade na mídia, sem alarde e dispensando
favores estatais, uma massa crítica de iniciativasestá levando adiante
experimentos ecossociais deum novo paradigma político em numerosos lugares do
mundo.Diante do sentimento de frustração que tem acompanhado o retrocesso legal
e a inércia institucional dos governos, entre nós e no mundo desde a Eco´92, o
contato com esta realidade foi extremamente estimulante para a delegação da
AGAPAN.
Diante da gravidade e da intensificação da crise ecológica, os 41 anos de atuaçãoda nossa entidade,priorizando políticas públicas e em confronto permanente com órgãos governamentais e a legislação ambiental que, paradoxalmente,opróprio pioneirismo da AGAPAN ajudou a criar, atualmente apresentam um saldo deprimente e desanimador. Assim tem sido a nossa participação minoritária em conselhos, comitês e comissões, por exemplo, onde somos sistematicamente derrotados nas votações.Esta constatação obriga a nossa entidade a reavaliar essa participação legitimadora, visando mudar essa situação perversa e deprimente para investir em atividades com maior retorno. Neste contexto, a Cúpula dos Povos nos proporcionou uma amostragem significativa do somatório de experiências da sociedade civil. A participação neste evento possibilitou contatos diretos com pessoas, organizações, ideias e realizações em todo o mundo. Essa riqueza de informação e de trocas humanas ampliou nossos horizontes, renovou nossas esperanças, fortaleceuos laços de solidariedade e revigorou a dimensão planetária e dignificante do movimento ecológico como um novo paradigma político da humanidade.
Diante da gravidade e da intensificação da crise ecológica, os 41 anos de atuaçãoda nossa entidade,priorizando políticas públicas e em confronto permanente com órgãos governamentais e a legislação ambiental que, paradoxalmente,opróprio pioneirismo da AGAPAN ajudou a criar, atualmente apresentam um saldo deprimente e desanimador. Assim tem sido a nossa participação minoritária em conselhos, comitês e comissões, por exemplo, onde somos sistematicamente derrotados nas votações.Esta constatação obriga a nossa entidade a reavaliar essa participação legitimadora, visando mudar essa situação perversa e deprimente para investir em atividades com maior retorno. Neste contexto, a Cúpula dos Povos nos proporcionou uma amostragem significativa do somatório de experiências da sociedade civil. A participação neste evento possibilitou contatos diretos com pessoas, organizações, ideias e realizações em todo o mundo. Essa riqueza de informação e de trocas humanas ampliou nossos horizontes, renovou nossas esperanças, fortaleceuos laços de solidariedade e revigorou a dimensão planetária e dignificante do movimento ecológico como um novo paradigma político da humanidade.
Ativistas ambientais marcham durante a Rio +20 contra o Codigo
Florestal e contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no centro
do Rio de
Janeiro, no dia 18 de Junho de 2012.
A Marcha dos Povos
A Marcha
dos Povos em Defesa do Planeta e da
Humanidade aconteceu na tarde do dia 20 de junho e teve cerca de 80 mil
participantes, apesar da grande mídianoticiarque
foram 20 mil pessoas. Havia uma imensa bandeira do Brasil da largura da avenida
Rio Branco. Mulheres africanas dançavam e cantavam, dando um espetáculo
maravilhoso de cultura e beleza. Era gente e mais gente! Foi uma festa
intercultural, uma gigantesca demonstração coletiva de vitalidade e de força
dos ecologistas e de outros movimentos sociais do Brasil e do mundo. No desfile,
o Governo brasileiro foi criticado com humor e criatividade. Destacou-se um
grande boneco representando a presidenta Dilma Rousseff, caracterizada como um
Tio Sam na clássica posição de dedo em riste, vestido de verde-e-amarelo e com
a bandeira dos Estados Unidos embaixo... E uma grande montagem fotográfica
mostrava a nossa presidenta, quando ainda era uma jovem guerrilheira, armada
com uma motosserra nas costas, ao invés de uma metralhadora...
Rio+20
- Cúpula dos Povos: a avaliação
A avaliação final da Cúpula dos Povos realizou-se na
Tenda Vascocelos Sobrinho, na manhã do sábado dia 23 de junho, na plenária da
FBOMS (Fórum Brasileiro de ONGS e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento). Inicialmente foi historiada e comentada a preparação da Rio+20
e, a seguir, avaliada a Cúpula dosPovos.
O governo brasileiro perdeu uma oportunidade única de
afirmar a soberania do país e de protagonizar o evento, afirmando sua
importância ecológica e política, como país detentor da maior biodiversidade do
Planeta. Mas o que protagonizou foi uma visão desenvolvimentista medíocre,
defasada e retrógrada. O fracasso daRio+20 levou nosso país asofrer um
desgaste. A retirada das assinaturas das organizações ambientalistas em apoio
ao documento oficial da Rio+20 foi acompanhada pelos representantes dos setores econômicos e
empresariais, caracterizando o fracasso da Rio+20.
Em concordância com as nossas previsões sobre o
fracasso do evento, baseadas no fato de que os governos nacionais não cumpriram
com os compromissos assumidos na Rio-92, não poderiam apresentar propostas à
altura da “Crise Ecológica Civilizacional”.
Consideramos que os documentos governamentais não podem ser produzidos
magicamente na véspera de um evento, pois exigem amplas e complexas negociações,
que requerem grandes prazos.
Tendas
autogestionadas: o que ofereço e procuro
A seguir, na avaliação da Cúpula dos Povos,falou-se
sobre o sucesso das atividades autogestionadas, realizadas nas tendas, através
de numerosas propostas temáticas e métodos de trabalho: oficinas, rituais,
celebrações, conferências, debates, depoimentos, mesas redondas, filmes,
música, danças, representações, sensibilização, contatos, relatos, trocas de
experiências, ampla distribuição de material impresso, etc.
A natureza não-convencional e criativa dessas atividades de comunicação, conscientização e aprendizagem divulga e informa numerosas experiências ecossociaisbem sucedidas do paradigma ecológico no Brasil e no mundo. As tendas da Cúpula dos Povos promoveram uma pedagogia participativa, exercida por pessoas e instituições que mostram e expressam realizações concretas e inquestionáveis. A atmosfera alegre, afirmativa e propositiva das tendas contrastou radicalmente com o clima de tensão e conflito que caracteriza o cotidiano do ambientalismo político, em confronto permanente com o estado, as instituições e a ordem social existente na nossa civilização. A diversidade das atividades autogestionadas foi o pontoalto da Cúpula dos Povos, responsável pelo sucesso que compensou largamente as deficiências, jogos de poder e conflitos do evento.
A natureza não-convencional e criativa dessas atividades de comunicação, conscientização e aprendizagem divulga e informa numerosas experiências ecossociaisbem sucedidas do paradigma ecológico no Brasil e no mundo. As tendas da Cúpula dos Povos promoveram uma pedagogia participativa, exercida por pessoas e instituições que mostram e expressam realizações concretas e inquestionáveis. A atmosfera alegre, afirmativa e propositiva das tendas contrastou radicalmente com o clima de tensão e conflito que caracteriza o cotidiano do ambientalismo político, em confronto permanente com o estado, as instituições e a ordem social existente na nossa civilização. A diversidade das atividades autogestionadas foi o pontoalto da Cúpula dos Povos, responsável pelo sucesso que compensou largamente as deficiências, jogos de poder e conflitos do evento.
Muito além da festa
Ficou
evidenciado o gigantesco trabalho que teremos que fazer para ampliar, nos demais
setores da sociedade civil, uma visão ambiental mais ampla e madura, já que, ao
participarem, demonstraram profundo interesse pela causa.
Portanto,
talvez seja o caso de pensarmos em outras periodicidades e em espaços próprios
para expressar o movimento ecológico na sua plenitude e legitimidade.Na atual
conjuntura hegemônico-financeira é indispensável que o movimento ecológico
contraponha uma ordem à desordem vigente. Conseguimos rechaçar a continuação do
caos proposta pela insustentabilidade da dita “economia verde”, endossada pelo
manto legitimador da ONU, como equacionamento da crise ecológica. Mas o momento
exige o processo de construção de uma agenda unitária para contrapor à
dispersão dos movimentos sociais e à administração midiática desmobilizadora da
opinião pública.
Somente
uma autoorganizaçãoda sociedade partindo do âmbito local, a começar em nosso
país,direcionando os movimentos sociaispara o questionamento e a redefinição do
papel do estado no atual impasse civilizatório da crise ecológica, terá
condições de estabelecer uma agenda pautada na luta contra a violação dos
direitos humanos e ambientais. Caso este
encaminhamento não aconteça, os poderes instituídos continuarão processando
judicialmente, prendendo, perseguindo e matando impunemente pessoas
insatisfeitas e revoltadas com a ordem social existente,diante de uma
coletividade passiva, impotente e desunida, em plena democracia formal
burguesa.
O
fracasso deles e o nosso sucesso
Contrastando com o fracasso da Rio+20, a Cúpula dos Povos foi o
local privilegiado para a expressão de um consenso, onde a troca de ideias,
encontros e debates sobre os diversos temas ambientais e sociais oportunizaram
a retomada de uma agenda ecológica planetária comum, promovendo a visão de um
horizonte de articulação e ampliaçãodaslutas futuras.
Comitiva da AGAPAN - Cúpula dos Povos, Rio de
Janeiro, junho de 2012.
AGAPAN/ JULHO DE 2012.
Imagens: site envolverde; site Reuters.
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