28 março 2019

Sebastião Pinheiro: os totens e os agrotóxicos

O auditório lotado assistiu a um Sebastião Pinheiro entusiasmado pela vida em uma noite memorável falando sobre agrotóxicos e seus malefícios presentes e futuros para a humanidade. E elogiando as grandes iniciativas locais, como por exemplo, a criação da Coolmeia, que viabilizou o grande crescimento dos alimentos com qualidade, orgânicos, no Rio Grande do Sul e o Brasil. 

O Agapan Debate da última segunda-feira (25), realizado no auditório da Faculdade de Arquitetura da Ufrgs, abordou o tema Agrotóxicos e seus Impactos na Sociedade. O que se viu foi um chamamento à participação de todos em uma sociedade que ama a humanidade e todos os seres vivos. Lembrou em vários momentos a importância da própria Agapan, criada em 1971, para a luta contra os agrotóxicos, agradecendo ela estar forte até os dias de hoje. 

O palestrante usou a imagens de totens indígenas para dizer que ‘agrotóxico’ pode ser entendido como um totem real nos dias de hoje - é inatacável, trata-se de uma crença, faz parte de uma religião em que as pessoas simplesmente acreditam ser inevitável. 

Sebastião foi duro ao verificar que a sociedade vive hoje alienada da forma de produzir sua alimentação. Citou o grande geógrafo Milton Santos: “A força da alienação vem de uma fragilidade dos indivíduos quando só conseguem identificar o que os separa e não os que os une. O mundo não é formado pelo que existe, mas também efetivamente pode existir”.

Francisco Milanez, presidente da Agapan, que conduziu a mesa dos trabalhos, disse que as pessoas não se dão conta que se pararem de consumir alimentos contaminados, em pouco tempo acaba o mercado dos agrotóxicos. 

Sebastião destacou que a estrutura mundial de poder, mercado e conhecimento está vinculado ao funcionamento de um grande complexo industrial militar. E que conhecimento para beneficiar a vida e a produção de alimentos com qualidade é de conhecimento de populações nativas há centenas de anos. No entanto, grandes empresas, como a Cargil, que detem 90% do fósforo mundial e controle sobre outros componentes básicos, manejam os mercados e o conhecimento de pesquisas em favor da vida de forma a obter para maiores rendas financeiras. Da mesma forma, ADM, Louis Dreyfus, Bunge e Nestlé. 

O pesquisador historiou a liberação cada vez em maior número de agrotóxicos no Brasil, chamando de marionetes da indústria do veneno os políticos e funcionários que liberam a comercialização destes produtos de circulação proibida ou bastante restrita em outros países. Eles fazem a adoração do agrotóxico, considerou. Citou que há casos de proibição da exposição do tema ‘agroecologia’ em institutos agrotécnicas e apoio à soja resistente ao glisofato até pela Embrapa (1998). 

Na palestra, ainda destacou opções de uso benéfico do pó de rocha na agricultura e outras práticas hoje utilizadas pela agroecologia familiar. 

Ao final, fez um chamamento à ação contra a prática da admissão pela nossa sociedade do alimento com agrotóxico. Embora sem venenos, a produção orgânica vendida em supermercados ao preço de ouro não é resultado da agroecologia – “apenas esta consegue oferecer preços viáveis e justos”. 

O vídeo integral da palestra estará disponibilizado em alguns dias no canal da Agapan no YouTube.


Lançamento do livro AgroEcologia 7.0
Na mesma noite, foi realizado o lançamento do livro “AgroEcologia 7.0”, de autoria do próprio Sebastião Pinheiro. Originado em uma primeira impressão mimeografada distribuída a mão em 1983, teve uma segunda edição ampliada em 1986, como nos anos seguintes. Agora, a edição comemora esta longa caminhada em 663 páginas.

Aponta o autor, na apresentação, que, graças ao livro, muitos passaram a desenvolver teses acadêmicas, muitas dezenas de empresas surgiram e foi abreviada a agonia da agricultura moderna, que “em estertores mudou seu nome para Agronegócios e busca desesperadamente hegemonia para o autoritarismo servil.”

A fila de autógrafos foi longa. A impressão de 1500 exemplares do livro tornou-se viável por meio do financiamento coletivo. Exemplares do livro podem ser adquiridos através do e-mail agroecologia7.0@gmail.com.



Prêmio Agapan de Ecologia
Durante a programação do Agapan Debate, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural ofereceu o troféu Padre Balduíno Rambo ao seu ilustre associado e palestrante da noite, Sebastião Pinheiro.

Sebastião Pinheiro, em um breve currículo, é técnico agrícola pela Unesp, Jaboticabal/SP, 1967; Engenheiro Agrônomo, Universidad nacional de La Plata (UNLP), 1973. Pós-graduado em Engenharia Florestal, na Escola Superior de Bosques, UNLP, Argentina, 1975. Foi delegado brasileiro no Codex Alimentarius das Nações Unidas em Haia, na Holanda. Pós-graduado em Toxicologia, Poluição Alimentar e Meio Ambiente na Bundesanstalt für Getreide-, Kartoffel- und Fettforschung (BAGKF), Alemanha, 1983. Investigou em Tucuruí o uso clandestino de herbicidas (Agente Blanco e Agente Laranja), em 1985. 
É autor e coautor de diversas publicações: “Agente Laranja em uma República de Banana”, “Biotecnologia: muito além da revolução verde” (por Henk Hobbleink, tradução e contribuição), “Agricultura Orgânica e Máfia dos Agrotóxicos no Brasil” (em parceria com Dioclecius Luz e Nasser Youssef Nasr); “Ladrões de natureza”; “Saúde no solo versus Agronegócios”. Traduziu de “Panes de Piedra” de Julius Hensel e “Húmus” de Selman Waksman. 
Em 1990, inicia os trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na Pró-Reitoria de Extensão Universitária e posteriormente no Núcleo de Economia Alternativa da Faculdade de Ciências Econômicas como enlace com os movimentos sociais (MPA, MST, MMC e outros) até sua aposentadoria.
Ativista científico em agricultura saudável, cromatografia de Pfeiffer e agroecologia camponesa.



Texto: João Batista Santafé Aguiar
Edição: Heverton Lacerda
Fotos: Sandra Mendes Ribeiro, Heverton Lacerda, Edi Fonseca

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