Tipuana derrubada na Usina do Gasômetro. (Foto: Facebook) |
Estamos presenciando um verdadeiro “arboricídio” em Porto Alegre. A cidade que um dia se orgulhou de ser uma das mais verdes do país sofre, a cada ano, com a remoção de milhares de árvores. Os dados mais recentes divulgados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam), referente a 2012, registra a derrubada de 4.061 árvores naquele ano, número que, segundo a Smam, deve se repetir na contabilidade de 2013.
São dados que a Agapan, entidade de defesa do ambiente natural com mais de quatro décadas de atuação, lamenta profundamente.
O argumento de defesa utilizado pela Smam, de que no lugar das árvores suprimidas, muitas outras foram plantadas (em 2012, teriam sido 26 mil mudas, todas no Parque Saint Hilaire) não é convincente: há indicativos de que boa parte dessas plantas morrem muito antes de se tornarem adultas, o que, de qualquer maneira, só ocorre após 20 ou 30 anos de cultivo adequado. Além disso, essas mudas estão distantes das áreas das árvores suprimidas. Ou seja, a sombra e a umidade, que tanto nos fazem falta em dias cálidos, ou a penetração das raízes no solo, que permite evitar ou reduzir os efeitos locais de chuvas intensas – os alagamentos, por exemplo –, só alcançarão níveis semelhantes aos daqueles exemplares que nos foram sonegados pelo poder público dentro de algumas décadas. Isso, claro, se novas demandas de obras não a cortarem no futuro para viabilizarem novas obras.
Obra na avenida Plínio Brasil Milano sem travessia de pedestres e sem ciclovia no projeto. (PMPA) |
O “desenvolvimento” proposto pelas administrações públicas é anacrônico e autodestrutivo, porque é direcionado ao constante aumento do uso de veículos poluentes e contra a preservação das árvores, que têm o poder de sequestrar o CO2 da atmosfera e refrescar os ambientes onde estão inseridas, climatizando microclimas e melhorando o ar.
Propaganda de transformação "Verde para o Bairro" da Prefeitura Municipal. (Foto: Agapan) |
Pior ainda: segundo estudos divulgados pelos pesquisadores da Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA), o ar de Porto Alegre já é duas vezes mais poluído do que o recomendado pelos padrões internacionais. Em alguns momentos do dia esse índice é ainda mais preocupante.
Quanto mais árvores suprimirmos, mais ficaremos expostos a doenças que a Organização Mundial de Saúde (OMS) associa à contaminação do ar: câncer de pulmão e de bexiga e distúrbios cardiorrespiratórios. A OMS também alerta que a redução do ar puro no ambiente urbano pode provocar nascimentos prematuros.
O caminho sugerido pelo Executivo municipal é suicida, sem volta. Por isso, não podemos concordar com o andamento das obras públicas de Porto Alegre, que destroem o que é importante para erguer concreto e asfalto.
Nesse modelo escolhido pelos administradores, nem arrancando todas as árvores de Porto Alegre resolveremos o problema da falta de pistas de rolamento, visto que o número de automóveis cresce dia a dia, tanto pelo incentivo do governo federal, que reduz impostos sobre esses produtos, quanto pelo aumento do poder aquisitivo de parte da população. A frota de veículos do RS ultrapassou a marca de cinco milhões de veículos em circulação no ano de 2011, segundo dados dos Detran RS. Nesse ano (2014), devemos ter mais de seis milhões. Nesse ritmo, a média de crescimento da frota fica em um milhão de veículos a cada três anos.
As manifestações públicas do inverno de 2013 na capital gaúcha registraram a insatisfação da população porto-alegrense, que se mostra crescente a cada novo bosque derrubado para a duplicação de uma via expressa.
Jovem sobe na Tipuana da Usina do Gasômetro em fevereiro de 2013. ( Foto: Facebook) |
Antes disso, em fevereiro de 2013, três jovens subiram em uma Tipuana diante da Usina do Gasômetro para impedir a derrubada das 110 árvores para uma obra de mobilidade da Copa do Mundo 2014. A prefeitura não apenas prendeu os 27 acampados que se mobilizaram pela preservação desse bem natural e comum, como, apesar do engajamento de uma parcela substancial da população através de redes sociais e de audiência pública, jamais aceitou alterar o projeto com as sugestões da cidadania.
Acampamento e defesa das árvores da Usina do Gasômetro. (Foto: Cardia) |
Parece-nos, portanto, que nossos gestores optaram pela forma menos democrática de empreender projetos urbanos, sem considerar os apelos dos moradores, técnicos em mobilidade como os arquitetos e nós, os ambientalistas.
Por isso, a Agapan se manifesta contrária à derrubada de árvores que vem ocorrendo em Porto Alegre em função de projetos urbanísticos e obras que não foram devidamente discutidas e solicitadas pela sociedade porto-alegrense.
Refazer tais projetos com vontade de diminuir erros e buscar alternativas sustentáveis é o que a cidadania espera e irá aplaudir. Não é vergonha para um administrador voltar atrás, pelo contrário, seria uma corajosa demonstração de boa vontade e preocupação com o futuro de uma cidade.
Defendemos um modelo de cidade autônoma, harmônica, socialmente justa e ecologicamente sustentável. Acreditamos em um mundo desenvolvido que respeite as nossas riquezas naturais, nosso patrimônio cultural e ambiental. E lutamos por ele.
Solicitamos que as 1.500 árvores da Avenida Tronco, as oito árvores da Praça Júlio Mesquita, as 198 árvores da Anita Garibaldi, as 200 da Cristóvão Colombo e as 200 da Plinio Brasil Milano sejam preservadas em seus locais atuais. Nenhuma árvore a menos!
Porto Alegre, 29 de janeiro de 2014.
Agapan – A Vida Sempre em Primeiro Lugar!
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