28 de junho de 2008 |
Entidade ambientalista valoriza harmonia do conjunto arquitetônico com árvores que formam um túnel verde tombado pelo município
A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) considera equivocada a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de autorizar a derrubada de um conjunto de seis casas, construídas na década de 1930, na rua Luciana de Abreu, em Porto Alegre.
“Há razões de sobra para preservá-las: são patrimônio arquitetônico incontestável, estão em harmonia com o túnel verde da rua e em nome da manutenção dessas características houve uma enorme mobilização de cidadãos”, avalia o presidente da Agapan, Alfredo Gui Ferreira.
Prefeito José Fogaça assina o Decreto Municipal que preserva vários Túneis Verdes do bairro Moinhos de Vento em 28 de junho de 2008. |
Segundo o pesquisador e professor Günter Weimer, o projeto dessas residências contou com a colaboração do arquiteto alemão Theodor Wiederspahn, o mesmo que assinou o projeto dos prédios da cervejaria (hoje shopping) e que em Porto Alegre foi ainda o responsável pelos belos contornos de edifícios marcantes como os que abrigam a Casa de Cultura Mario Quintana, o Memorial do Rio Grande do Sul, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, o Santander Cultural, a Faculdade de Medicina da UFRGS e o Edifício Ely, hoje loja da Tumelero em frente à rodoviária.
“Independente do valor arquitetônico, o fato é que essas construções fazem parte da memória do bairro e contribuem para que o Moinhos de Vento seja um dos locais mais queridos de Porto Alegre, como se viu na enorme mobilização de moradores e frequentadores do bairro. Colocar essas casas abaixo será destruir a característica local, que é, aliás, o que as incorporadoras vendem aos seus compradores”, sublinha Cesar Cardia, militante da Agapan e um dos integrantes do movimento cidadão pelos túneis verde.
Manifestação pela preservação das casas em 28 de junho de 2008. |
Edifício contribui para a densificação da cidade
No lugar do casario da Luciana de Abreu poderá ser construído um edifício de 16 andares pela construtora Goldztein. Embora a incorporadora seja obrigada a preservar o túnel verde formado pela árvores da Luciana de Abreu, protegido pela legislação desde 2008 por um decreto do então prefeito José Fogaça, a Agapan salienta que o ambiente ficará prejudicado pela construção.
A preocupação da entidade é com itens como a densificação e verticalização da cidade, características que trazem consequências como a impermeabilização do solo, o que contribui com inundações e colabora com a saturação do trânsito na região.
“Trocar as casas por um edifício interfere brutalmente na qualidade de vida das pessoas. Será um espaço onde deixaremos de caminhar para apreciar o verde das árvores, pois haverá grades e seguranças na calçada, não mais esse visual agradável de hoje”, lamenta o presidente da Agapan.
Prefeito Fogaça e secretário da SMAM, Beto Moesch, assinam decreto municipal que preserva vários Túneis Verdes do bairro Moinhos de Vento, inclusive na Luciana de Abreu, em 28 de junho de 2008. |
Outro importante motivo para que o conjunto de casas da Luciana de Abreu seja preservado é a importante mobilização que a associação Moinhos Vive promoveu ao longo de dez anos pela manutenção das características históricas do bairro, com casarões e ruas arborizadas.
Autoridades, moradores do bairro e apoiadores de outras regiões da cidade comemoram a preservação dos Túneis Verdes do Moinhos de Vento em 28 de junho de 2008. |
Por meio de um abaixo assinado, que chegou a contabilizar o apoio de seis mil pessoas, os moradores conquistaram o apoio do Ministério Público, que atesta o valor histórico, cultural e paisagístico do conjunto residencial e de seu entorno.
Uma das casas da Luciana de Abreu, em 07/12/2007 |
As casas chegaram a ser incluídas no inventário de imóveis listados para a preservação, determinadas por um estudo da Equipe do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do município, mas foram retiradas, contrariando a vontade popular.
A Agapan defende que a prefeitura precisa ouvir os moradores e incluir os imóveis no inventário de Porto Alegre, solução que poderia tornar nula a decisão do Tribunal de Justiça. “É uma grande irresponsabilidade da gestão municipal não escutar o clamor da sociedade”, condena Cesar.
Assessoria de Comunicação da Agapan
Jornalista Naira Hofmeister
Fotos: arquivo do Movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho
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