Pressionada por produtores,ambientalistas e pelos depoimentos de pesquisadores, a Bayer CropScience solicitou ontem à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a retirada temporária do processo do seu arroz transgênico da pauta de decisões técnicas. O Brasil seria o primeiro país a liberar a comercialização do Arroz LibertyLink(LL62), que é resistente ao herbicida glufosinato de amônio,produzido pela Bayer.
"É uma decisão sábia deles. Eles iriam desgastar a própria imagem e não teriam muito a ganhar,até porque os produtores não querem.”
Flávio Breseghello,
pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão
O pesquisador Flávio Breseghello, da Embrapa Arroz e Feijão, afirmou ao Correio que não haveria controle sobre o arroz modificado geneticamente.“Não tenho nada contra os transgênicos. O problema é que não teremos controle desse pela existência do arroz vermelho. Ele será cruzado com o arroz vermelho.Se um dia quisermos eliminar o arroz transgênico do campo,não vai ser possível, porque ele estará nas plantas de arroz vermelho, que também se tornarão resistentes a esse produto”,explicou o pesquisador da Embrapa.
Na avaliação dele, “essa tecnologia terá vida curta, porque essa planta invasora se tornará resistente ao herbicida. Em no máximo 10 anos, o herbicida perde o efeito”.
Ambientalistas que participaram das audiências públicas na CTNBio afirmam que, com a resistência ao agrotóxico, o arroz transgênico não morrerá, mas absorverá
o veneno, que irá também para os grãos. A Bayer nega esse risco de contaminação.
Afirmou ao Correio que o LibertyLink já recebeu liberação total para cultivo
e para uso em alimentos e rações nos Estados Unidos. “Aprovações de importação e para o consumo de arroz já foram obtidas no Canadá,no México, na Austrália e na Nova Zelândia. Além disso, já há uma avaliação científica positiva para o Arroz LibertyLink na União Europeia”, disse a empresa em nota à reportagem.
Retomada anunciada
Apesar disso, a Bayer anunciou ontem a retirada do processo de pauta na CTNBio. “Essa abordagem proativa da empresa resulta da necessidade de ampliar o diálogo com os principais integrantes da cadeia de produção de arroz no Brasil. Uma vez que se chegue a uma conclusão frutífera, retomaremos o processo de aprovação para o uso comercial do produto”,justificou a empresa. Segundo a Bayer, a tecnologia LibertyLink foi desenvolvida no arroz para atender a demanda dos produtores por uma solução mais
eficiente e sustentável no controle de plantas danosas. “Essa tecnologia,já disponível mundialmente no algodão, na canola, na soja e no milho, oferece aos agricultores mais uma alternativa de amplo espectro às soluções herbicidas já
existentes, com opções adicionais para o efetivo controle de plantas daninhas de uma forma muito reconhecida,ambientalmente compatível e sustentável.”
Breseghello comentou a iniciativa da empresa: “É uma decisão sábia deles. Eles iriam desgastar a própria imagem e não teriam muito a ganhar, até porque os produtores não querem. Foi uma decisão comercial. Concluíram que os potenciais desgastes de imagem seriam maiores que os potenciais lucros. Foi uma decisão empresarial.”
Correio Braziliense, por Lucio Vaz
24/junho/2010
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