04 dezembro 2008

Ecologia de pai para filha



A nossa atuação como indivíduos está relacionada, entre outros fatores, com nossa historia familiar. Meu pai, Sigefrido Bettiol, advogado e professor de geografia, história, português e latim, incentivou em mim e meus irmãos o cuidado e respeito que devemos ter com a natureza.

Desde nossa infância ele nos chamava atenção, nas longas caminhadas e piqueniques, para a beleza das pedras, das conchas, dos fósseis e das flores silvestres. À noite, nos ensinava o nome dos astros e das constelações, e de como eles mudavam de posição conforme a época do ano.
Fazia-nos entender que o homem faz parte de um complexo e sofisticado sistema biológico, e que nossa obrigação é preservá-lo para que o equilíbrio seja mantido.

Augusto Carneiro, da Agapan, que foi aluno de meu pai, me disse que a maneira como ele ensinava geografia já englobava princípios que anos mais tarde seriam a base da ecologia.

A referida formação me estimulou anos depois, como artista, a dedicar uma parte de minha obra à temática ecológica. A primeira obra multimídia que criei, foi em 1979 no MARGS, intitulada "Verde que te quero verde", constituída por uma instalação, que na época se chamava ambiente, Sobreviveremos?, que contava com uma série de desenhos e textos relacionados à ecologia, e também música.

Associei-me a Agapan em 1983 e à Associação Democrática Feminina Gaúcha no mesmo período, hoje Núcleo Amigos da Terra.

Um dos mais recentes eventos coletivos que participei foi Essa PoA é boa, e meu grupo "R_ECOnstruindo a vida", realizou uma série de atividades cujo fio condutor foi o ambientalismo. Entre estas atividades houveram uma série de diálogos ambientais com a participação da Kathia Vasconcellos do NAT e Tânia Pires do Greenpeace, para alunos de escolas, principalmente dos bairros Navegantes e Humaitá.

Como artista e cidadã, sempre me posicionei na defesa de bens culturais de nossa cidade, como a manutenção de prédios da Usina do Gasômetro e do Mercado Público e no tombamento do Largo Glênio Peres. Mais recentemente atuo na área sócio-cultural, voluntariamente, na Associação Cristal Florido que trabalha com arte e educação como meio de inclusão social para crianças e adolescentes.

O que tem me feito refletir recentemente é o espaço e o tempo que a mídia, os governos e a área financeira tem gastado divulgando a crise econômica que começou nos Estados Unidos. Ficou bem claro que um pequeno desequilíbrio financeiro comprometeu os seres humanos em escala planetária.O que não dá para entender é, como a depredação do ambiente natural (terrestre, marítima e atmosférica) praticada desenfreada e ilimitadamente pelos seres humanos não é tratado prioritariamente em nosso planeta, sendo que muitos problemas ambientais são irreversíveis.

O desequilíbrio climático é uma realidade com graves conseqüências, como as inundações atuais que deixaram o estado de Santa Catarina em situação calamitosa. Mais ou menos no mesmo período, na Argentina, região de Las Lomitas, fez 48 graus.Ainda é nítida a lembrança do furacão em Torres no ano de 2004, que provocou enormes estragos.

Penso que é dever de todos evitar que Porto Alegre fique uma cidade sem sabedoria como São Paulo, na qual a qualidade de vida é muito baixa.

Não podemos nos envolver na solução de todos os problemas ambientais, mas alguns estão muito próximos e nos dizem diretamente respeito com a orla do Guaíba.Sua preservação é dever de todos nós. Portanto sugerimos que se crie urgentemente uma equipe interdisciplinar formada por membros da SMAM, por ambientalistas, biólogos urbanistas, geógrafos, sociólogos, geólogos e artistas plásticos para elaborar um projeto que respeite a natureza e a beleza da orla, e que seja um local de fruição para toda população.

Poderia se projetar, se fosse oportuno, o Museu do Rio Guaíba. O ideal seria que o projeto incluísse a orla das lagoas dos Patos e Mirim, em um segundo momento. Naturalmente que estes projetos demorariam muito tempo e deveriam ser mantidos independente das mudanças de governo municipal e estadual. Se realizássemos o projeto harmonizando a beleza e o bem estar da população, estaríamos projetando Porto Alegre nacional e internacionalmente, com soluções ecológicas adequadas ao nosso contexto. Para finalizar, podemos lembrar que Porto Alegre começou a ser conhecida internacionalmente pelo Orçamento Participativo, pelo Fórum Social Mundial, pelo Porto Alegre em cena e mais recentemente pela Bienal do MERCOSUL.

Zoravia Bettiol.
Artista Plástica
Associada à AGAPAN
Texto lido hoje na Tribuna da Câmara de Vereadores de Porto Alegre

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