Carta
Aberta sobre Valores Humanos e Ambientais no Brasil
Outubro
de 2018
Em 21 de
Outubro de 2018, o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), na sua sede em
Viamão, Rio Grande do Sul, convidou representantes de diferentes organizações religiosas,
movimentos sociais, entidades não governamentais, representantes do poder público,
lideranças indígenas e pessoas em geral, com a presença de cerca de 100 pessoas
no local e 200 acompanhando virtualmente, para uma conversa aberta sobre a
promoção dos valores humanos e ambientais no contexto político e social atual.
Acreditamos
que, especialmente em tempos de acirramentos e tensões, é importante enfatizarmos
a continuidade de diálogos abertos entre diferentes pessoas e setores da sociedade,
a fim de constituir terreno comum entre as diferentes visões religiosas e não religiosas,
filosóficas, científicas, políticas e sociais, que nos guiem à ação a partir de
valores e princípios elevados. No movimento do CEBB, esse encontro constitui
mais um capítulo de encontros abertos sobre cultura de paz, saúde, educação,
auto-organização, reencantamento e redes, que acontecem aqui desde o ano 2000.
A partir
das conversas neste dia, convergimos em alguns valores fundamentais que acreditamos
ser importante retomar e sustentar neste momento. Eles podem ser sumarizados
nos seguintes pontos:
1. Vida
humana sustentável e preciosa. Bem-estar físico, emocional e social. Redes humanas
assentadas em compaixão, pacificação, valorização, respeito e lucidez.
2. Cultura
de paz, em todos os níveis e em todos os lugares. Nos opomos a posturas autoritárias,
sectárias, armamentistas e violentas nas disputas políticas e no convívio social.
Que não seja uma paz de conivência silenciadora, mas a paz que nos permite falar
e ouvir com abertura e interesse. Nos opomos a visões e não a pessoas; não temos
inimigos.
3. Justiça
social e liberdade. Acesso amplo às condições básicas (físicas, emocionais e
sociais) de apoio à vida: infraestrutura básica; alimentação de qualidade; saúde
integrada e preventiva; segurança física e emocional; justiça ampla e
restaurativa; educação que inclua o livre pensar, o respeito à diversidade, o
mundo interno e as emoções; liberdade de movimento, pensamento e expressão.
4.
Movimentos não sectários. Valorização das diferentes culturas e expressões que compõem
nossa sociedade, incluindo os povos tradicionais, as expressões e modos de vida
de matriz africana, as diferentes culturas e religiões, as mulheres, as diferentes
expressões de gênero, sexualidade e afeto. Uma postura que vá além da tolerância:
que inclua generosidade, respeito e um interesse genuíno por todos os humanos.
5. Proteção,
apreciação e reconexão com o meio ambiente, a partir da consciência da
interdependência entre toda a vida na Terra e da compreensão dos impactos de nossos
movimentos nos diferentes grupos humanos, nos animais e vegetais, na terra, nas
águas e na atmosfera. Socio-bio-diversidade; proteção dos ecossistemas; defesa
de práticas agrícolas familiares, saudáveis, orgânicas, integradas ao meio ambiente
e às culturas tradicionais.
6.
Auto-organização e redes. Favorecimento da formação de redes baseadas em solidariedade,
apoio mútuo e visões não sectárias de coletividade. Construção de espaços múltiplos
de diálogo, de associações comunitárias, de fomento de projeto e de ações
construídas coletivamente de forma horizontal e descentralizada.
7.
Democracia participativa: participação mais ampla da sociedade em conselhos municipais,
estaduais e federais. Comunicação pública mais ampla e transparente entre governos
e sociedade civil. Mais espaços de abertura para que a inteligência das
diferentes redes possa se traduzir em políticas públicas responsáveis e
efetivas.
Fazemos
coro a diversas outras instituições que, neste momento de acirramento político
e de disputa eleitoral, relembram compromissos e aspectos que deveriam estar
presentes em quaisquer grupos que governem o país e os estados pelos próximos
anos. Acreditamos que os candidatos deveriam esclarecer suas posições diante
desses valores humanos, sociais e ambientais, bem como suas proposições, metas
concretas e indicadores que planejam para seus governos. Para além disso,
reafirmamos nosso esforço contínuo, individual e em rede, para que a manifestação
desses valores e princípios sejam ampliados e consolidados em nosso tecido
social.
Viamão, 21
de outubro de 2018
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER)
Instituto de Estudos da Religião (ISER)
Iniciativa das Religiões Unidas (URI)
Observatório Transdisciplinar das Religiões de Recife
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN)
Via Zen -- Associação Zen-budista do Rio Grande do Sul
Instituto ZEN Maitreya
Tekoá Anhetenguá (Guarani)
Assentamento Filhos de Sepé:
Grupo ‘Mulheres da Terra’,
Grupos de Certificação Orgânica ‘Vandana Shiva’ e ‘Adão Pretto’
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