03 agosto 2015

Panfleto sem assinatura defende fábrica de celulose, em Guaíba

Atribuído a "trabalhadores da Celulose Riograndense e também moradores de Guaíba", panfleto distribuído neste domingo (02/08) próximo a uma festa que acontecia em igreja do balneário Alegria, em Guaíba (RS), tinha a pretensão inicial de "explicar o que fazemos e como fazemos, para que não sejam usadas inverdades sobre o nosso trabalho". Uma cópia do panfleto foi enviada para a imprensa da Agapan por um morador de Guaíba para alertar sobre a estratégia. 
Ainda que não seja assinado por pessoas físicas ou entidades jurídicas, o panfleto indicava ser "uma iniciativa dos empregados e prestadores de serviço da CMPC". O conteúdo repete o discurso que a empresa divulga oficialmente para se defender das acusações.

Alguns empregados (ao fundo, na foto) já haviam se manifestado em favor da fábrica, com cartazes, inclusive, justamente no mesmo dia (28/07) e local em que moradores haviam programado uma manifestação contra os impactos locais causados pela fábrica (primeiro plano da foto). Por este motivo, alguns moradores desconfiam de que algum empregado da fábrica esteja infiltrado no grupo para monitorar as articulações de protestos.
Conforme a conselheira e ex-presidente da Agapan Edi Fonseca, a tática de tentar sobrepor a importância dos empregos à qualidade de vida e à saúde da população já é conhecida e continua sendo repetida, de forma irresponsável.

Gritos do silêncio


Diante do descaso do Estado, da fábrica e da imprensa local em relação às suas reclamações e pedidos de socorro, algum moradores buscaram na Agapan uma opção de apoio para enfrentar a gigantesca papeleira, que cresce e descarrega o bafo cada vez mais enfadonho de seu metabolismo voraz sobre a comunidade. 
Com a ajuda da entidade ambientalista, que há quatro décadas alerta para os riscos que a fábrica representa - não só para os moradores de Guaíba, mas, também, para o rio e para o bioma Pampa -, os moradores estiverem reunidos com o Ministério Público do Rio Grande do Sul. No dia 19 de junho, a reunião foi realizada no Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público do Rio Grande do Sul (Caoma/RS). Na ocasião, o promotor de Justiça Daniel Martini recebeu integrantes da Agapan e uma comissão de moradores para conhecer maiores detalhes sobre a questão.

Imprensa dominada 2

No dia 22 de junho, publicamos uma retranca, junto à matéria que apresentava a denúncia da Agapan e de moradores de Guaíba contra a fábrica Celulose Rigrandense ao Ministério Público, intitulada "Imprensa dominada". Naquele pequeno espaço, buscamos denunciar, também, a estratégia que a empresa utiliza para criar uma imagem (falsa) de empresa gaúcha que se interessa pela comunidade e tem boas ações socioambientais. 
Na nota, alertamos que "ao comprar páginas inteiras, estampar pseudo-mensagens alusivas à proteção ambiental e patrocinar projetos editoriais dos jornais, a fábrica busca o abafamento de debates e notícias quanto à sua pouca importância social para as comunidades, sobressaindo-se o aspecto econômico, que tanto agrada empresas, políticos e gestores públicos". Também citamos uma reportagem especial feita pelo jornal Zero Hora (Grupo RBS) que apelidava "carinhosamente" as monoculturas de eucaliptos espalhadas pelo RS de "ouro verde".
Após isso, o jornal procurou a Agapan e, no dia 25 de julho, publicou uma matéria com dados apontados pela Agapan e reclamações de moradores de Guaíba que revelam preocupantes irregularidades ocorridas na fábrica. 
No dia 30 de julho, foi a vez da equipe de reportagem do Jornal do Almoço (RBS TV/Grupo RBS) fazer uma matéria sobre o problema. Ocupando cinco minutos do horário nobre da emissora, a reportagem apresentou relatos de moradores sobre os problemas observados nas proximidades da fábrica e dedicou boa parte do espaço para o contraponto da empresa Celulose Riograndense. A matéria também afirma que a fábrica foi multada cinco vezes em um ano pela Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente (Fepam). No entanto, o diretor industrial da empresa, José Ventura, diz que as infrações fazem parte do período de ajustes da fase de ampliação da fábrica, que dura só seis meses. Os dados não batem. Após a exibição do vídeo da reportagem, a apresentadora do telejornal entrevista, no estúdio, o diretor técnico em exercício da Fepam, Renato das Chagas e Silva. Questionado sobre se o que está acontecendo é prejudicial à saúde dos moradores, o entrevistado diz que "é prejudicial no sentido do conforto, no sentido de você não ter na sua casa aquela tranquilidade que se tinha...".

O perigo do reducionismo

Imagem: http://www.madrimasd.org/
A Agapan faz questão de frisar - focos que não foram abordados pelas reportagens citadas acima - que, além dos impactos amplamente demostrados sobre os moradores, a atividade realizada pela fábrica é sinônimo de grande risco (consentido pelo Estado/Fepam) para o rio Guaíba, que abastece de água os moradores de Porto Alegre e outras cidades. Também é muito grande o impacto que o bioma Pampa vem sofrendo (cultural e ecologicamente) com as imensas áreas que vêm sendo plantadas com monoculturas de eucaliptos, árvores que consomem grande volume de água do subsolo gaúcho. 
O problema da seca, como acontece em São Paulo, é um fantasma que não pode ser ignorado pela comunidade gaúcha e, principalmente, pelos gestores públicos.

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