13 abril 2014

Recordações, amor e versos para Augusto Carneiro




(Credito: Facebook /Gonçalo de Carvalho)


Ambientalistas gaúchos fizeram uma homenagem ao seu pioneiro neste sábado, na banca na Feira Ecológica que ele ocupou por 25 anos

Saudades, mas sem dor – como bem lembrou o ex-presidente da Agapan, Francisco Milanez – foi o sentimento dominante na Feira de Agricultores Ecologistas neste sábado, 12 de abril, onde foi realizada uma homenagem a Augusto Carneiro, que faleceu na última segunda-feira, 7 , aos 91 anos. “É uma morte que não sofremos, pois Carneiro teve uma vida plena, foi incansável e só deixou amor entre nós”, disse o dirigente.


O ato, prestigiado por ambientalistas de distintas entidades e pelo público frequentador, resgatou da memória desse pioneiro em seu espaço de difusão da causa ambiental: a banca de livros que montava todos os sábados, desde a fundação da FAE, em 1989. “Aqui é tudo ecologia”, apresentava seu trabalho a quem passasse.



Livros voltaram à banca. (Crédito: CCardia/Agapan)




Embora sua atividade na feirinha fosse difundir teoria, Carneiro era um militante voltado para a ação. Para resgatar essa característica, os participantes do ato levaram para a banca que ele ocupou ao longo dos últimos anos, textos que ele distribuía para alertar sobre problemas da causa ambiental. Entre bergamotas e flores, também estavam expostos livros que contam sua trajetória como a recente biografia da jornalista Lilian Dreyer, Carneiro, depois de tudo um ecologista.
 
Sea Sheperd prestigiou a homenagem com cinco integrantes,aqui uma delas.  (Créditos: Agapan)


Houve ainda quem levasse fotos tiradas junto com o ambientalista, como os representantes do Sea Sheperd do Rio Grande do Sul. Galhos das árvores que Carneiro tanto defendeu serviram de suporte para documentos relacionados a sua história e atuação. E ele recebeu até uma canção, entoada à capela pelos poetas Mário Pirata e Pedro Marodin – O Samba dos Animais, de Jorge Mautner.


Pedro Marodin e Mário Pirata. (Credito: Agapan)
“O homem antigamente falava / Com a cobra, o jabuti e o leão

Olha o macaco na selva / Mas não é macaco baby, é meu irmão!

Porém durou pouquíssimo tempo / Essa incrível curtição

Pois o homem, rei do planeta / Logo fez sua careta / E começou a sua civilização

Agora já é tarde / Ninguém nunca volta jamais

O jeito é tomar um foguete / é comer desse banquete /Para obter a paz - aquela paz

Que a gente tinha quando falava com os animais”




Carneiro e Lutzenberger no início da Agapan. (Crédito: Já Editores)


Companheiro de Lutz

Carneiro foi fundador da Agapan em 1971, ao lado de José Lutzenberger e de dezenas de outros ambientalistas – uma cópia da ata estava exposta na banca na manhã deste sábado. “Se o Lutz alcançou essa culminância de ser uma personalidade mundial foi também porque tinha o Carneiro ao seu lado, secretariando tudo o que fazia”, registrou o também ex-presidente da Agapan, Celso Marques.


Lívia Zimermann. (Credito:Agapan)

A filha de outra pioneira da ecologia gaúcha, Hilda Zimmerman, Lívia, revelou que a amizade era tão intensa que Carneiro mais de uma vez financiou Lutz para que ele pudesse prestar serviços à preservação da natureza.

Como quando foi criado o Parque da Guarita, em Torres. “O governo não remunerava o Lutz no início, ele trabalhava de graça. E quem pagava o aluguel dele era o Carneiro”, lembrou ela.

Juntos, Lutz e Carneiro viajaram pelo interior do Rio Grande do Sul divulgando o trabalho da entidade – visitas essas que eram precedidas pelo envio de farto material sobre a iniciativas levadas a cabo pelos ambientalistas.


“Éramos recebidos com banda de música em todos os lugares que chegávamos porque o Carneiro já tinha se encarregado de mostrar o que fazíamos. Ele era um divulgador em massa na era pré-internet” definiu Marques.

As ideias de Carneiro inspiraram muitas outras iniciativas ligadas à causa em todo o Estado. Uma delas foi a criação da Afapan – Associação Farroupilhense de Proteção ao Ambiente Natural – levada a cabo pelo produtor agroecológico e coordenador da feirinha do Bom Fim Pedro José Lovatto após uma manhã de bate papo na casa de Carneiro, em 1982. “Aquela conversa foi decisiva não apenas para reorientarmos a nossa produção, que antes era feita com agrotóxicos, mas para criarmos essa organização na minha cidade”, recordou.


Celso Marques, ex presidente da Agapan, atual conselheiro. (Crédito:Agapan)



Militantes agradecem

As sentidas palavras daqueles que tomaram o microfone nesta manhã mostram o significado da luta ambientalista de Augusto Carneiro. Estes foram alguns dos depoimentos:

“Nunca vamos deixar de amar e respeitar essa pessoa insubstituível e essencial que foi o Carneiro. É uma fonte permanente de inspiração” - Celso Marques, ex-presidente da Agapan.

“Nossa responsabilidade enquanto ambientalistas aumenta diante desta perda, teremos que multiplicar o trabalho” - Ana Carolina Silveira Martins, pela Apedema.




Pedro José Lovatto vice-coordenador da Feira de Agroecologistas. (Crédito:Agapan)



“Desejo a ele tudo de melhor nessa nova etapa da sua grande existência. Ele partiu para uma nova jornada de paz” - Pedro José Lovatto, vice-coordenador da Feira de Agricultores Ecologistas.

“Carneiro era uma semente, que deu árvores, bosques, florestas. Que tenhamos muitas árvores Carneiros, Lutzenbergers, Hildas, Magdas, Giseldas, Roesslers” - Lívia Zimmerman, filha da pioneira Hilda Zimmerman.

“Carneiro é hoje nome de uma área no Jardim Botânico de Porto Alegre que guarda espécies raras endêmicas. É muito adequada, ele era uma espécie rara” - Rodrigo Marques, coordenador gaúcho do Sea Sheperd.



Milanez ex-presidente da Agapan. (Credito:Agapan)

“O que ele nos ensinou é a nunca desistir. Nunca. Estava aí, aos 90 anos, com sua simplicidade, humildade, fazendo o trabalho mais difícil. Eu queria ser como ele” - Francisco Milanez, ex-presidente da Agapan.


Naira Hofmeister

Assessoria de Imprensa Agapan

Créditos: Agapan, CCardia, Gonçalo de Carvalho(facebook)

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