22 abril 2013

Mesmo com corte suspenso, prossegue acampamento em defesa das árvores

Palestras no acampamento - Foto: Adriane B. Rodrigues

Mesmo com corte suspenso, prossegue acampamento em defesa das árvores

Árvores, pessoas, corações. A vida pulsa na Orla do Guaíba. Seja de dia ou à noite, desde a última quarta-feira (17 de abril), um grupo de 15 pessoas está acampado entre a Usina do Gasômetro e a Câmara de Vereadores. No acampamento de vigília contra o corte de árvores da área do Gasômetro, eles se revezam, pois trabalham e estudam, e persistem na defesa das árvores, conversando com as pessoas que passam por lá e atraindo adeptos e apoiadores. O grupo recebe doações de água, comida e vinho, além de lonas, cordas e lenha, para manter a fogueira acesa.

“Aqui cada um contribui com o que pode, somos todos protagonistas”, diz Juliana Vieira, mãe, estudante e trabalhadora. “Venham tomar chimarrão, propor um bate-papo, fazer uma aula de Yoga”, chama.

Entre várias entidades parceiras e simpatizantes da causa, Juliana convidou a Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural) para, no sábado que passou (20 de abril) falar sobre a história da ONG, que completa 42 anos no próximo dia 27, e os marcos da luta em defesa da Orla, como a subida na chaminé, em agosto de 1988 (Projeto Praia do Guaíba), que culminou com o abraço ao Guaíba, que reuniu em torno de 12 mil pessoas entre o Gasômetro e o Beira Rio. “Essa área é patrimônio público da cidade e está preservada graças à mobilização, por isso precisamos lutar contra a prefeitura, a construção civil e a especulação imobiliária”, conclamou Celso Marques, conselheiro e ex-presidente da Agapan.


Foto: Cesar Cardia
PÚBLICO X PRIVADO

É de 1989 o início das discussões sobre um projeto para a Orla do Guaíba. “Defendíamos um plano que contemplasse interesses de todo cidadão, até porque tem morador da Zona Norte que não conhece a Zona Sul de Porto Alegre”, exclama Francisco Milanez, presidente da Agapan, ao lamentar que o técnico é educado para achar que sabe tudo sobre determinada área. “Eles só pensam a área deles, não veem que pode ser diferente do que simplesmente cortar uma árvore”.

Para Milanez, a lógica da construção da cidade é injusta, e critica o baixo orçamento (0,02%) destinado à primeira Secretaria Municipal de Meio Ambiente do país. “Isso mostra muito da importância que é dada ao setor. É nesse mundo que estamos imersos”, diz. “Nosso desafio é assumir que todos temos lugar na cidade, lutando por uma vida melhor para todos”, afirmou.
O grupo também trocou ideias sobre o Pontal do Estaleiro. Sylvio Nogueira Junior, do Movimento em Defesa da Orla, lembrou a primeira consulta pública realizada no Brasil para discutir um projeto imobiliário para determinada área. “Foi aqui em Porto Alegre, num processo de participação decisivo para nossa cidade”, destacou.

“As lutas não são isoladas e esse movimento em defesa das árvores e da Orla pública se combina com a mobilização contra o aumento das passagens. É por isso que a mobilização é fundamental, pois envolve a discussão de que sociedade que queremos”, diz Sylvio, do alto de seus 75 anos.

Fim da tarde no acampamento - Foto: Adriane B. Rodrigues
Foto: cesar Cardia
SUSPENSÃO DO CORTE

No último dia 19/04, o desembargador Carlos Eduardo Zietlow Duro, da 22ª Câmara Cível do TJRS, suspendeu a liminar que permitia o corte de árvores localizadas no traçado da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, também conhecida como Av. Beira Rio. O Ministério Público, autor da Ação Civil Pública, postulou a antecipação de tutela, sustentando que o processo de licenciamento ambiental da duplicação da Av. Edvaldo Pereira Paiva ignorou a presença do Corredor Parque do Gasômetro, previsto no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA).  O MP entende que este fato produz danos irreparáveis à qualidade de vida da população de Porto Alegre, que ficará privada de um local tradicional de dedicação à cultura, ao esporte e ao lazer, qual seja a Usina do Gasômetro.

Ativistas recortando corações - Foto: Cesar Cardia
De acordo com o Agravo de Instrumento n° 70054203187, “Embora se reconheça a relevância do projeto em andamento e os reflexos da duplicação da via pública, trazendo grande benefício à população, conveniente seja afastada a supressão de árvores no local neste momento processual, conforme pretendido pelo Ministério Público, evitando-se a irreversibilidade da medida, tendo em vista que a ausência de concessão da medida acabaria por possibilitar o rápido corte de árvores, fazendo com que, ao final, quando do julgamento do recurso pela Câmara, haverá o fato consumado, culminando na ineficácia do recurso.”


Assessoria de Imprensa da Agapan
Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues

Fotos: Adriane Rodrigues e Cesar Cardia/ AGAPAN

Nenhum comentário: