30 setembro 2009

O aquecimento global e a crise civilizatória


Terça Ecológica debate: Mudanças Climáticas
Dia: 13 de Outubro
Hora: Das 19h às 21 horas
Local: Auditório do Instituto Goethe

O aquecimento global e a crise civilizatória

A necessidade de se repensar qual é o grau de aquecimento que os

ecossistemas poderão suportar fica mais evidente diante de novos

dados científicos lançados após o relatório do IPCC.

Por Celso Copstein Waldemar

1.O clima está mudando e rápido

Há mais de vinte anos a ONU vem alertando a governança mundial e a
sociedade sobre os perigos advindos da emissão gases de efeito estu-
fa pela queima de combustíveis fósseis. Em 10 de novembro de 2007
Ban Ki -moon, secretário-geral da ONU, após sobrevoar a Antártica e
constatar o inicio de seu degelo acentuado declarou:

"Preciso de uma resposta política. Esta é uma emergência, e para
situações de emergência precisamos de ações de emergência"(1)

Durante 2007, quase qualquer cidadão do mundo foi avisado de que se
o aquecimento global exceder 2ºC, a humanidade entrará em terreno
'desconhecido e perigoso'. Pode soar um pouco assustador, mas o fato
é que se trata de um alerta baseado nos dados do 4º Relatório de
Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
IPCC, na sigla em inglês). Mas agora, na última reunião da ONU
sobre Mudanças Climáticas em Poznan, as coisas parecem estar mudando;
pelo menos do ponto de vista dos cientistas. A meta de 2ºC pode não
ser suficiente para interromper os piores efeitos da mudança climática,
como secas e chuvas devastadoras(2)

Martin Parry, chefe do Departamento de Ciências Ambientais do
Imperial College (Londres), que foi o vice-presidente do grupo sobre
impactos do aquecimento no IPCC, tem circulado um artigo científico na
conferência, alertando sobre os riscos de não agir agora. Intitulado
“As consequências de atrasar ações sobre mudanças climáticas”, seu
paper sustenta que as atuais propostas para a redução das emissões de
carbono são permissivas a respeito de impactos sobre o homem e
natureza.

“Nós deveríamos estar pensando em algo como 1,5ºC ou até mesmo menos,
como aumento máximo”, diz Parry. Em seu artigo, o membro do IPCC
demonstra que permitir uma elevação de 2ºC na temperatura global
representa, entre outras coisas, que entre 1 bilhão e 2 bilhões de
pessoas sofrerão com problemas de suprimento de água. Ou haverá uma
drástica queda na produção de cereais.

A necessidade de se repensar qual é o grau de aquecimento que os
ecossistemas poderão suportar fica mais evidente diante de novos
dados científicos lançados após o relatório do IPCC. Artigos
publicados em 2008 revelam que a capacidade dos oceanos em absorver
gás carbônico (CO2) está caindo. Os mares são o principal sorvedouro
de CO2, mas eles parecem estar saturados.
Para Martin Parry, o Planeta está mudando numa velocidade bem mais
rápida do que tinham previsto os cientistas no IPCC em 2007.

E isso ocorre apenas com uma elevação de 0,6ºC na temperatura do globo
nos últimos 50 anos. O pesquisador afirma que 2008 pode ter sido o ano
em que presenciamos a primeira crise criada pelo aquecimento global: a
crise alimentar. A longa seca na Austrália, ele observa, quebrou a safra
de trigo que alimenta 15% do mercado mundial de cereais.

O professor do Imperial College não está sozinho em alertar que o clima
muda rapidamente. Em Poznan, cientistas do Instituto para Mudanças
Climáticas de Potsdam apresentaram novos modelos indicando que o limite
de 2ºC também pode ser muito alto para as geleiras. Isso é especialmente
verdade para as camadas de gelo da Groelândia e Antártica. O doutor Bill
Hare, do Potsdam Institute, revelou em seu painel “Novas revelações sobre
as camadas de gelo após o relatório do IPCC”, que um aumento de 1,5ºC na
temperatura global seria suficiente para derreter toda a cobertura da
Groelândia. Se isso de fato acontecer, o aumento do nível dos mares deve
subir 6,5 metros (Porto Alegre, já atingida pela cheia do Guaíba em 1941,
tem um sistema de proteção parcial da cidade de até 6 metros).

Hare reconhece que não há modelos confiáveis para se prever o impacto do
derretimento das geleiras no nível dos oceanos, mas que “é preciso propor
reduções de emissão de gases de efeito estufa mais audaciosas do que aquelas delineadas pelo IPCC”.
Os climatologistas concordam que para estabilizar o clima é preciso ter uma
redução das emissões de 60% sobre os níveis de 1990.

Rajendra Pachauri coordenador do IPCC diz que no próximo relatório do IPCC,
que sairá apenas em 2014, é possível que os indicativos sobre a temperatura
limite sejam trazidos para um nível mais baixo. A dúvida é se isso não seria
tarde demais frente ao rápido derretimento das geleiras. De toda forma, ele
pondera, os dados contidos no 4º Relatório, de 2007, já são assustadores o
suficiente para despertar um comportamento “avesso ao risco” nos governos
que estão na Convenção do Clima (2).

2.Em breve não seremos capazes de nós adaptarmos ás mudanças globais

Segundo Pachauri, em seu depoimento na COP-14 na Polônia em Dezembro de
2008: “Em breve os impactos do aquecimento global vão exceder a nossa
capacidade de adaptar-mos a ela. Estes efeitos incluem mais freqüentes e
severas secas, inundações, furacões e tempestades e o aumento do nível do
mar. Os impactos das mudanças climáticas são tão evidentes que se não
tomar-mos medidas imediatas, a situação vai ficar cada vez pior.

E concluiu” Os paises mais pobres e as comunidades carentes são as mais
vulneráveis a esses efeitos. A sociedade deve ter uma estratégia na qual
a adaptação deve ser local, mas a mitigação (redução da emissão de gases
que estão aquecendo o planeta) deve ser global.”

“As boas notícias é que as possibilidades de mitigação não são custosas.
Atualmente existem evidências plenas que a transição para uma matriz
energética com baixo consumo de carbono fóssil e com o uso de energias
solar e eólica é uma solução economicamente viável, a “win-win solution.”
(3)

3.Tarde demais...Por que os cientistas dizem que devemos esperar o pior

No inicio de 2008, Jim Hansen, um dos diretores da NASA publicou um
artigo científico na qual fez uma reconstituição dos climas já existentes
no planeta. Concluiu que é necessário à humanidade ter uma meta de 350 ppm
(partes por milhão) de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera
para podermos preservar o planeta de forma similar a aquela que permitiu o desenvolvimento de nossa civilização e a qual a vida na terra está adaptada.
Antes da revolução industrial, o teor era de 280 ppm. Atualmente este teor
é de 386 ppm e esta subindo 2 ppm ao ano. E concluiu que é necessário
urgentemente reduzir estas emissões por causa do risco de retroalimentação
do sistema climático, ou seja o aumento espontâneo da temperatura
independente da redução da queima de combustível fóssil.

As emissões de carbono fóssil cresceram desde 2000 num ritmo nunca
imaginado, principalmente pelo uso do carvão mineral na China e em
outros países em desenvolvimento, cenário mais dramático que o pior
cenário projetado pelo último relatório do IPCC.
É considerado improvável que este nível atingirá 450 ppm, considerando
a atual inércia sócio-política, mais provável é atingirmos 650 ppm. .
Neste cenário, o planeta atingiria um catastrófico aumento de
temperatura de 4° graus , na qual haverá escassez crônica de água
e alimentos e países vulneráveis e inundações que atingiram centena
de milhões de habitantes (3).
A última previsão da ONU, estima que haverá em 2050 entre 250 milhões
á 1bilhão de refugiados climáticos (5).

REALIMENTAÇÃO (FEEDBACK) DO SISTEMA CLIMÁTICO

AUMENTO DO TEOR DE CO2 PELA ATIVIDADE HUMANA

AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL

AUMENTO DA TEMPERATURA DO MAR ARTICO

DIMINUIÇÃO DO ALBEDO DO MAR ARTICO

DEGELO DA CALOTA POLAR DO MAR ARTICO

LIBERAÇÃO DE METANO DO PERMAFROST

LIBERAÇÃO DE HIDRATO DE METANO DO MAR

LIBERAÇÃO DE GAS METANO DA SUB-SUPERFICIE DO MAR

DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE DE CAPTURA DE CARBONO DO MAR

DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE DE CAPTURA DE CARBONO DAS FLORESTAS

LIBERAÇÃO DE CARBONO DAS FLORESTAS

SUBIDA DA TEMPERATURA EM 5 º C,TEOR DE CO2 E METANO SUPERIOR A 650PPM
?↓? (chegaremos a este ponto?)
MORTE COLETIVA DA HUMANIDADE

Há uma grande expectativa quanto à próxima conferencia da ONU, a
COP-15 na Dinamarca em dezembro de 2009, que vai tentar negociar
um novo acordo de redução de emissões, já que o Protocolo de Quioto
que trata destas questões fracassou, pois as emissões ao invés de
baixarem subiram.

Porem devemos ser realistas e avaliar que um acordo com todos os
paises e que ao mesmo tempo seja eficiente na redução das emissões
na velocidade e amplitude necessária, segundo a ciência tem pouca
probabilidade de acontecer.
Venezuela, Arábia Saudita, Rússia, Irã, Líbia, Kuwait iram abrir mão
de suas receitas milionárias como petróleo em nome de um acordo
global de sobrevivência da civilização?

A China mesmo, sob a ameaça de perder sua principal fonte de água
doce, as geleiras do Himalaia aceitará reduzir momentaneamente seu
crescimento econômico até que sua matriz energética for majoritariamente
sem carvão?
A exceção do Protocolo de Montreal, que eliminou a produção de gases
que destroem a camada de Ozônio,mas que teve pouco impacto econômico
na sua adoção, historicamente a ONU e anteriormente a Liga das Nações
nunca foram capazes de acordar uma Governança Global.

Há os exemplos da Primeira e Segunda Guerra Mundial, dos Genocídios
étnicos de Judeus e ciganos, da Guerra Fria, dos conflitos do Oriente
Médio, dos massacres da guerra da ex-Iugoslávia, dos atuais genocídios
étnicos na África. Nunca houve um consenso total entre as nações.

Penso que as nações que respeitarem a posição da Ciência e acatarem a
redução da queima de combustível fóssil e a mudança rápida de sua matriz
energética não devem fazer concessões na meta de emissões: 350 ppm de
CO² equivalente.
E sem esperar um consenso universal, devem se unir em um bloco político-
e boicotar economicamente os paises de tendências suicidas como forma
legitima e moralmente aceita de garantir um futuro digno a humanidade.

Referências
1.http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/mundo/conteudo.phtml?id=712030
2.http://www.oeco.com.br/reportagens/37-reportagens/20508-o-clima-esta-mudando-e-rapido
3.http://economictimes.indiatimes.com/Global_Warming/Soon_we_wont_be_able_to_adapt_to_climate_Pachauri/articleshow/3822846.cms 4.http://www.guardian.co.uk/environment/2008/dec/09/poznan-copenhagen-global-warming-targets-climate-change
5.http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2007/05/13/ult1806u6054.jhtm








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