1.O clima está mudando e rápido
Há mais de vinte anos a ONU vem alertando a governança mundial e a sociedade sobre os perigos advindos da emissão gases de efeito estu- fa pela queima de combustíveis fósseis. Em 10 de novembro de 2007 Ban Ki -moon, secretário-geral da ONU, após sobrevoar a Antártica e constatar o inicio de seu degelo acentuado declarou:
"Preciso de uma resposta política. Esta é uma emergência, e para situações de emergência precisamos de ações de emergência"(1)
Durante 2007, quase qualquer cidadão do mundo foi avisado de que se o aquecimento global exceder 2ºC, a humanidade entrará em terreno 'desconhecido e perigoso'. Pode soar um pouco assustador, mas o fato é que se trata de um alerta baseado nos dados do 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas IPCC, na sigla em inglês). Mas agora, na última reunião da ONU sobre Mudanças Climáticas em Poznan, as coisas parecem estar mudando; pelo menos do ponto de vista dos cientistas. A meta de 2ºC pode não ser suficiente para interromper os piores efeitos da mudança climática, como secas e chuvas devastadoras(2)
Martin Parry, chefe do Departamento de Ciências Ambientais do Imperial College (Londres), que foi o vice-presidente do grupo sobre impactos do aquecimento no IPCC, tem circulado um artigo científico na conferência, alertando sobre os riscos de não agir agora. Intitulado “As consequências de atrasar ações sobre mudanças climáticas”, seu paper sustenta que as atuais propostas para a redução das emissões de carbono são permissivas a respeito de impactos sobre o homem e natureza.
“Nós deveríamos estar pensando em algo como 1,5ºC ou até mesmo menos, como aumento máximo”, diz Parry. Em seu artigo, o membro do IPCC demonstra que permitir uma elevação de 2ºC na temperatura global representa, entre outras coisas, que entre 1 bilhão e 2 bilhões de pessoas sofrerão com problemas de suprimento de água. Ou haverá uma drástica queda na produção de cereais.
A necessidade de se repensar qual é o grau de aquecimento que os ecossistemas poderão suportar fica mais evidente diante de novos dados científicos lançados após o relatório do IPCC. Artigos publicados em 2008 revelam que a capacidade dos oceanos em absorver gás carbônico (CO2) está caindo. Os mares são o principal sorvedouro de CO2, mas eles parecem estar saturados. Para Martin Parry, o Planeta está mudando numa velocidade bem mais rápida do que tinham previsto os cientistas no IPCC em 2007.
E isso ocorre apenas com uma elevação de 0,6ºC na temperatura do globo nos últimos 50 anos. O pesquisador afirma que 2008 pode ter sido o ano em que presenciamos a primeira crise criada pelo aquecimento global: a crise alimentar. A longa seca na Austrália, ele observa, quebrou a safra de trigo que alimenta 15% do mercado mundial de cereais.
O professor do Imperial College não está sozinho em alertar que o clima muda rapidamente. Em Poznan, cientistas do Instituto para Mudanças Climáticas de Potsdam apresentaram novos modelos indicando que o limite de 2ºC também pode ser muito alto para as geleiras. Isso é especialmente verdade para as camadas de gelo da Groelândia e Antártica. O doutor Bill Hare, do Potsdam Institute, revelou em seu painel “Novas revelações sobre as camadas de gelo após o relatório do IPCC”, que um aumento de 1,5ºC na temperatura global seria suficiente para derreter toda a cobertura da Groelândia. Se isso de fato acontecer, o aumento do nível dos mares deve subir 6,5 metros (Porto Alegre, já atingida pela cheia do Guaíba em 1941, tem um sistema de proteção parcial da cidade de até 6 metros).
Hare reconhece que não há modelos confiáveis para se prever o impacto do derretimento das geleiras no nível dos oceanos, mas que “é preciso propor reduções de emissão de gases de efeito estufa mais audaciosas do que aquelas delineadas pelo IPCC”. Os climatologistas concordam que para estabilizar o clima é preciso ter uma redução das emissões de 60% sobre os níveis de 1990.
Rajendra Pachauri coordenador do IPCC diz que no próximo relatório do IPCC, que sairá apenas em 2014, é possível que os indicativos sobre a temperatura limite sejam trazidos para um nível mais baixo. A dúvida é se isso não seria tarde demais frente ao rápido derretimento das geleiras. De toda forma, ele pondera, os dados contidos no 4º Relatório, de 2007, já são assustadores o suficiente para despertar um comportamento “avesso ao risco” nos governos que estão na Convenção do Clima (2).
2.Em breve não seremos capazes de nós adaptarmos ás mudanças globais
Segundo Pachauri, em seu depoimento na COP-14 na Polônia em Dezembro de 2008: “Em breve os impactos do aquecimento global vão exceder a nossa capacidade de adaptar-mos a ela. Estes efeitos incluem mais freqüentes e severas secas, inundações, furacões e tempestades e o aumento do nível do mar. Os impactos das mudanças climáticas são tão evidentes que se não tomar-mos medidas imediatas, a situação vai ficar cada vez pior.
E concluiu” Os paises mais pobres e as comunidades carentes são as mais vulneráveis a esses efeitos. A sociedade deve ter uma estratégia na qual a adaptação deve ser local, mas a mitigação (redução da emissão de gases que estão aquecendo o planeta) deve ser global.”
“As boas notícias é que as possibilidades de mitigação não são custosas. Atualmente existem evidências plenas que a transição para uma matriz energética com baixo consumo de carbono fóssil e com o uso de energias solar e eólica é uma solução economicamente viável, a “win-win solution.” (3)
3.Tarde demais...Por que os cientistas dizem que devemos esperar o pior
No inicio de 2008, Jim Hansen, um dos diretores da NASA publicou um artigo científico na qual fez uma reconstituição dos climas já existentes no planeta. Concluiu que é necessário à humanidade ter uma meta de 350 ppm (partes por milhão) de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera para podermos preservar o planeta de forma similar a aquela que permitiu o desenvolvimento de nossa civilização e a qual a vida na terra está adaptada. Antes da revolução industrial, o teor era de 280 ppm. Atualmente este teor é de 386 ppm e esta subindo 2 ppm ao ano. E concluiu que é necessário urgentemente reduzir estas emissões por causa do risco de retroalimentação do sistema climático, ou seja o aumento espontâneo da temperatura independente da redução da queima de combustível fóssil.
As emissões de carbono fóssil cresceram desde 2000 num ritmo nunca imaginado, principalmente pelo uso do carvão mineral na China e em outros países em desenvolvimento, cenário mais dramático que o pior cenário projetado pelo último relatório do IPCC. É considerado improvável que este nível atingirá 450 ppm, considerando a atual inércia sócio-política, mais provável é atingirmos 650 ppm. . Neste cenário, o planeta atingiria um catastrófico aumento de temperatura de 4° graus , na qual haverá escassez crônica de água e alimentos e países vulneráveis e inundações que atingiram centena de milhões de habitantes (3). A última previsão da ONU, estima que haverá em 2050 entre 250 milhões á 1bilhão de refugiados climáticos (5).
REALIMENTAÇÃO (FEEDBACK) DO SISTEMA CLIMÁTICO
AUMENTO DO TEOR DE CO2 PELA ATIVIDADE HUMANA ↓ AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL ↕ AUMENTO DA TEMPERATURA DO MAR ARTICO ↕ DIMINUIÇÃO DO ALBEDO DO MAR ARTICO ↕ DEGELO DA CALOTA POLAR DO MAR ARTICO ↕ LIBERAÇÃO DE METANO DO PERMAFROST ↕ LIBERAÇÃO DE HIDRATO DE METANO DO MAR ↕ LIBERAÇÃO DE GAS METANO DA SUB-SUPERFICIE DO MAR ↕ DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE DE CAPTURA DE CARBONO DO MAR ↕ DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE DE CAPTURA DE CARBONO DAS FLORESTAS ↕ LIBERAÇÃO DE CARBONO DAS FLORESTAS ↕ SUBIDA DA TEMPERATURA EM 5 º C,TEOR DE CO2 E METANO SUPERIOR A 650PPM ?↓? (chegaremos a este ponto?) MORTE COLETIVA DA HUMANIDADE
Há uma grande expectativa quanto à próxima conferencia da ONU, a COP-15 na Dinamarca em dezembro de 2009, que vai tentar negociar um novo acordo de redução de emissões, já que o Protocolo de Quioto que trata destas questões fracassou, pois as emissões ao invés de baixarem subiram.
Porem devemos ser realistas e avaliar que um acordo com todos os paises e que ao mesmo tempo seja eficiente na redução das emissões na velocidade e amplitude necessária, segundo a ciência tem pouca probabilidade de acontecer. Venezuela, Arábia Saudita, Rússia, Irã, Líbia, Kuwait iram abrir mão de suas receitas milionárias como petróleo em nome de um acordo global de sobrevivência da civilização?
A China mesmo, sob a ameaça de perder sua principal fonte de água doce, as geleiras do Himalaia aceitará reduzir momentaneamente seu crescimento econômico até que sua matriz energética for majoritariamente sem carvão? A exceção do Protocolo de Montreal, que eliminou a produção de gases que destroem a camada de Ozônio,mas que teve pouco impacto econômico na sua adoção, historicamente a ONU e anteriormente a Liga das Nações nunca foram capazes de acordar uma Governança Global.
Há os exemplos da Primeira e Segunda Guerra Mundial, dos Genocídios étnicos de Judeus e ciganos, da Guerra Fria, dos conflitos do Oriente Médio, dos massacres da guerra da ex-Iugoslávia, dos atuais genocídios étnicos na África. Nunca houve um consenso total entre as nações.
Penso que as nações que respeitarem a posição da Ciência e acatarem a redução da queima de combustível fóssil e a mudança rápida de sua matriz energética não devem fazer concessões na meta de emissões: 350 ppm de CO² equivalente. E sem esperar um consenso universal, devem se unir em um bloco político- e boicotar economicamente os paises de tendências suicidas como forma legitima e moralmente aceita de garantir um futuro digno a humanidade.
Referências 1.http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/mundo/conteudo.phtml?id=712030 2.http://www.oeco.com.br/reportagens/37-reportagens/20508-o-clima-esta-mudando-e-rapido 3.http://economictimes.indiatimes.com/Global_Warming/Soon_we_wont_be_able_to_adapt_to_climate_Pachauri/articleshow/3822846.cms 4.http://www.guardian.co.uk/environment/2008/dec/09/poznan-copenhagen-global-warming-targets-climate-change 5.http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2007/05/13/ult1806u6054.jhtm |
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