11 março 2009

Era uma vez um Planeta


Pode ser que, em poucas décadas, os historiadores escrevam a história da nossa época mais ou menos nos seguintes termos: agora que o setor privado ocupou seu devido lugar como principal implemento de práticas sustentáveis, simplesmente porque elas funcionam melhor e custam menos, o enfoque das décadas de 1970 e 1980 da microadministração por intermédio de regulações governamentais intensivas é apenas uma triste recordação. As batalhas entre a indústria e os ambientalistas limitam-se aos países atrasados, onde as indústrias ineficientes e poluentes se agarram à vida por trás do escudo do planejamento central.

Hoje as questões decisivas, para as indústrias sensatas e bem-sucedidas_ sendo que ambas são cada vez mais idênticas_ referem-se não a como produzir melhor os bens e os serviços necessários à satisfação da vida_coisa já resolvida_mas ao que vale a pena produzir, ao que nos tornará seres humanos melhores, a como deixar de tentar fazer necessidades imateriais com meios materiais, e ao quanto é suficiente.

Para muitos, a perspectiva de um sistema econômico baseado no aumento da produtividade com que utilizamos o capital natural, eliminando o conceito de desperdício e reinvestindo nos sistemas vivos da Terra e nas pessoas, é de tal modo otimista que chega a questionar sua viabilidade econômica. Para responder a essa pergunta, basta invertê-la e indagar: como nos foi possível crirar um sistema econômico que nos diz que é mais barato destruir a Terra e exaurir as pessoas que nutrir ambas?

É racional ter um sistema de preços que vende o passado e cobra o futuro? Como foi que criamos um sistema econômico que confunde liquidação do capital com renda? Devastar os recursos para auferir lucros está longe de ser justo, destruir as pessoas para elevar o PIB não aumenta o nível de vida e arruinar o meio ambiente a fim de obter crescimento econômico nada tem de econômico nem de crescimento.

Para que pessoas gozem de mais bem-estar não são necessárias novas teorias, basta o bom senso, basta partir da simples proposição segundo a qual todo o capital tem valor. Embora talvez não exista uma maneira "certa" de avaliar uma floresta, um rio ou uma criança, o errado não é lhes atribuir valor nenhum.

Se há duvidas sobre como avaliar uma árvore de setecentos anos, mais vale perguntar quanto custaria criar uma nova. Ou uma nova atmosfera, ou uma nova cultura. O que há de notável neste período histórico é o grau de consenso que está se formando globalmente sobre a relação entre os sistemas humanos e os vivos. As dezenas de minhares de organizações que trabalham por um mundo sustentável são, no conjunto, diversificadas, locais, mal financiadas e frágeis.

Espalhadas pelo mundo, da Sibéria ao Chile, do Quênia ao Bozeman, no Estado de Montana, as pessoas e as instituições estão se organizando para defender a vida humana e do planeta. Embora em grande parte descoordenadas e desvinculadas entre si, as incumbências, as diretivas, os princípios, as declarações e outras afirmações de propósito delineados por esses grupos são extraordinariamente constantes. Atualmente estão se juntando a elas as vozes mais graves das organizações internacionais e de empresas grandes ou pequenas.


Fonte: HAWKEN, Paul; LOVINS, "Capitalismo Natural", pgs 300-301, Editora Cultix-Amana -Key,

Um comentário:

Caras Pintadas do Rio Grande do Sul disse...

E aí, Gurizada! parabéns pelo blog. Gostaríamos de pedir para nos ajudar a divulgar o blog do movimento dos caras pintadas, que está na linha de frente pelo fora Yeda. Pela primeira vez em anos, temos um movimento estudantil amplo e mobilizado nas ruas.
valeu,
abraço
www.caraspintadasrs.blogspot.com